Este é o meu quartinho de bagunça. Da embalagem vazia de Chokito ao último livro do Saramago que eu não terminei de ler, você encontrará aqui de tudo um pouco.

sexta-feira, dezembro 22, 2006

Parábola Natalina do Desapego

Papai Noel, Rita (minha chefe nota mil, que Deus é pai, não é padrasto), Joaquim e Laura, num momento explícito de desapego natalino.

A Rita, que ao contrário da música, devolveu meu sorriso (e meu amor pelo trabalho), me contou uma história sensacional de sua filha Loló, de dois anos. Aproveitando o ensejo do Natal, há uns dois meses ela vinha negociando com sua filha a troca da chupeta, a droga mais pesada dos pequeninos, por um presente do Papai Noel. Houve todo um processo, muito papo cabeça e muita argumentação neoliberal. Afinal, Papai Noel tem mais o que fazer do que sair por aí de trenó e gola de pele, nesse calor infernal, dando presentes para crianças desconhecidas sem receber em troca algo bem mais valioso. E olha que há muitas crianças no mundo dispostas a abrir mão da própria chupeta pra não ficar chupando o dedo no Natal!

E assim, comendo pelas beiradas e dobrando a ferinha no gogó, mamãe Rita finalmente sentou com sua filha para escrever uma carta seriíssima pra esse tal de Papai Noel, nos seguintes termos:

"Querido Papai Noel,

Eu sou a Laura, tenho dois anos, sou filha da Rita e do Joaquim, moro no lugar tal e estudo no lugar xis. Se eu tivesse CPF, IPTU, Renavam e ID, seria mais fácil pro senhor me localizar, mas conto com sua astúcia e a de seus subalternos pra não ser confundida com uma Laura de dois anos qualquer. Até porque eu tenho uma proposta irrecusável pra te fazer: em troca de uma reles caixa de bombons, prometo que lhe darei minhas chupetas, que são deliciosas, não deformam, têm formato anatômico e sem as quais eu não durmo. É pegar ou largar, bom velhinho. Pense bem. Terei aula de natação no dia tal, no lugar xis. Se o senhor por acaso aparecer por lá, leve uma caixa de bombons. Eu levarei minhas chupetas.

Beijo grande,

Laura"


Pois não é que no dia tal, no lugar xis, o tal do Papai Noel apareceu, de fato, na Natação da Loló?! Por sorte, ele tinha tido tempo de ler a carta da menina e levou, conforme combinado, uma caixa da Kopenhagen cheia de bombons. E a mãe da menina, claro, não esqueceu de levar todas as chupetas embrulhadas pra presente. Foi um bom negócio para ambas as partes. Feita a troca, tiradas as fotos do momento histórico, sairam -- menina e Papai Noel --, felizes da vida com seus presentes trocados.

À noite caiu e a pequena Laura, subitamente, começou a soluçar e chorar baixinho, com a pança cheia de bombom. "O que foi, filha?", perguntou a mamãe, já sabendo da resposta. "Eu... que...ro... a mi...nha... pe(soluço sofrido)...peta".

Quando a Rita chegou nesse ponto da história, eu me levantei da cadeira, coloquei as mãozinhas na cintura, me fazendo de capitalista selvagem, e perguntei: "Ué, depois de comer todo o bombom, ela ainda queria ter de volta as chupetas?!? Fala sério!". E a Rita, que me conhece há pouco tempo, mas bem o bastante pra saber que desapego é minha meta espiritual, mas não exatamente meu forte, mandou à queima-roupa: "Olha quem fala!". E fez-se um silêncio sepulcral enquanto eu sorvia a moral da história: não há desapego sem dor, mas chega sempre o momento de se encarar esse monstro de frente e derrotá-lo com garra e algumas lágrimas.

Este ano, acho que vou escrever pro Bom Velhote propondo que ele me dê uns abadás pro carnaval em Salvador em troca de uns vícios inúteis que tenho. É pegar ou largar! Só espero que o correio na Bahia seja rápido o bastante pra carta chegar ao destinatário antes de domingo.


E antes que eu me esqueça ou deixe pra depois e acabe me enrolando (porque sobrinho de 4 anos tem mais energia que um border collie), um feliz Natal para todos vocês, com muito desapego (dos vícios ruins) e muito amor pra quem nos merece.


Na semana que vem, quero marcar um bota-fora com a galera. Aceito sugestões de locais, datas e horários e, com isso, farei aqui uma enquete. Afinal, este blog nada sério é um quartinho de bagunça, mas extremamente democrático.

"Beijo gande",

VanOr