O pior cego
Dizem que o pior cego é aquele que não quer ver. Então, o pior cego sou eu.
Passei numa ótica popular pra pegar minhas novas novas lentes. Experimentei e disse, no ato: "Trata-se de um engano: estas lentes estão distorcendo a realidade completamente." O atendente, coitado, apenas um vendedor fantasiado de jaleco e munido de algum conhecimento em optometria, mas nenhum em psicometria, disse: "Mas é exatamente o que seu médico pediu." E eu, mãozinhas indignadas na cintura, bufei: "Pois ele vai se ver comigo, e é ness'instante!"
Fui lá pro consultório, cantando pneu. "Ora, veja só: estas lentes estão completamente erradas!" E ele, depois de conferir: "Mas olhe só, que estranho: estão completamente certas." E, diante de minha expressão confusa, continuou: "O que te causou estranheza?" Eu, claro, disse a verdade: "Ora, estou vendo coisas demais. Mais do que preciso enxergar. Agora eu consigo até ler placas com nomes de ruas!" "E antes dessas lentes, isso não te fazia falta?". Dando-me por vencida, pois diante de tal argumento eu perderia até pro DETRAN, e quem perde pro DETRAN perde pra tudo, eu apenas suspirei pra dentro: "Queria que o mundo fosse TODO menos nítido."
E meu oftalmo, que é um fofo, sorriu, fingindo não perceber minha malcriação existencialista, e se despediu dizendo: "Se em uma semana você não se adaptar ao mundo, venha aqui que eu te adapto a ele."
Odeio admitir, mas bom mesmo é enxergar pouco. O que eu preciso mesmo é das lentes antigas.
Passei numa ótica popular pra pegar minhas novas novas lentes. Experimentei e disse, no ato: "Trata-se de um engano: estas lentes estão distorcendo a realidade completamente." O atendente, coitado, apenas um vendedor fantasiado de jaleco e munido de algum conhecimento em optometria, mas nenhum em psicometria, disse: "Mas é exatamente o que seu médico pediu." E eu, mãozinhas indignadas na cintura, bufei: "Pois ele vai se ver comigo, e é ness'instante!"
Fui lá pro consultório, cantando pneu. "Ora, veja só: estas lentes estão completamente erradas!" E ele, depois de conferir: "Mas olhe só, que estranho: estão completamente certas." E, diante de minha expressão confusa, continuou: "O que te causou estranheza?" Eu, claro, disse a verdade: "Ora, estou vendo coisas demais. Mais do que preciso enxergar. Agora eu consigo até ler placas com nomes de ruas!" "E antes dessas lentes, isso não te fazia falta?". Dando-me por vencida, pois diante de tal argumento eu perderia até pro DETRAN, e quem perde pro DETRAN perde pra tudo, eu apenas suspirei pra dentro: "Queria que o mundo fosse TODO menos nítido."
E meu oftalmo, que é um fofo, sorriu, fingindo não perceber minha malcriação existencialista, e se despediu dizendo: "Se em uma semana você não se adaptar ao mundo, venha aqui que eu te adapto a ele."
Odeio admitir, mas bom mesmo é enxergar pouco. O que eu preciso mesmo é das lentes antigas.
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