Calças curtas
Você sabe que não está tão velho assim quando seu pai conta que passou boa parte da vida escolar em calças curtas. Sempre que ela fala isso, penso se calças curtas = bermuda, mas tenho vergonha de perguntar e ofender a confraria das calças curtas.
Enfim, lembrei disso porque hoje ele recontou uma história que eu adoro, da época em que ele passou das malditas calças curtas (= fedelho) pro colegial (= calouro), onde ele sofria do mesmo jeito, só que de calça comprida. Meu pobre pai sofria na escola porque sempre foi bom aluno e, como todo infante bobão, corria pra mostrar pros colegas suas provas marcadas com o parabéns da professora e a nota dez a todo fim de bimestre. Aí chegavam os veteranos e diziam:
- Ah, tirar dez não significa nada, quer ver como você não sabe tudo? Imagine-se neste dilema: você tem uma cachorrinha chamada Nabunda e está com ela num bote, num rio. O bote fura e você, o que faz? Leva Nabunda ou deixa Nabunda?
Meu pai ficava roxo, mudo e não respondia coisa alguma. Ele tinha cachorro em casa, ora bolas, não queria e nem podia deixar seu peludo morrer afogado, mas as opções dos veteranos tampouco serviam pra ele. E punha-se no caminho de casa pensativo e furioso, até que trocava o dilema por uma tarde empinando pipa, e pronto: no dez seguinte, num minuto de distração, os veteranos sempre o pegavam no mesmo dilema mortal. Leva ou deixa Nabunda, coitadinha?
Passaram-se meses, até que meu pai, sordidamente, ao pretexto fraco de um nove, foi ter com os veteranos novamente. E, novamente, eles desdenharam da nota e vieram com o dilema nabundiano: leva ou deixa? Dessa vez, no entanto, meu pai tinha a resposta na ponta da língua:
- Nabunda nada!
E, desse momento em diante, passou ele mesmo a ser um veterano no front escolar de ofensas cerebrais, onde menino só sobrevivia se tivesse uma mãe em casa, pra manter pura e casta, e outra mãe na rua, pra ser objeto da desonra dos amigos.
PS: da primeira vez que meu pai contou essa história, e eu devia usar lá minhas calcinhas curtas, eu sugeri uma saída menos genial, mas bonitinha até: Nabunda usava bóia nos braços.
Enfim, lembrei disso porque hoje ele recontou uma história que eu adoro, da época em que ele passou das malditas calças curtas (= fedelho) pro colegial (= calouro), onde ele sofria do mesmo jeito, só que de calça comprida. Meu pobre pai sofria na escola porque sempre foi bom aluno e, como todo infante bobão, corria pra mostrar pros colegas suas provas marcadas com o parabéns da professora e a nota dez a todo fim de bimestre. Aí chegavam os veteranos e diziam:
- Ah, tirar dez não significa nada, quer ver como você não sabe tudo? Imagine-se neste dilema: você tem uma cachorrinha chamada Nabunda e está com ela num bote, num rio. O bote fura e você, o que faz? Leva Nabunda ou deixa Nabunda?
Meu pai ficava roxo, mudo e não respondia coisa alguma. Ele tinha cachorro em casa, ora bolas, não queria e nem podia deixar seu peludo morrer afogado, mas as opções dos veteranos tampouco serviam pra ele. E punha-se no caminho de casa pensativo e furioso, até que trocava o dilema por uma tarde empinando pipa, e pronto: no dez seguinte, num minuto de distração, os veteranos sempre o pegavam no mesmo dilema mortal. Leva ou deixa Nabunda, coitadinha?
Passaram-se meses, até que meu pai, sordidamente, ao pretexto fraco de um nove, foi ter com os veteranos novamente. E, novamente, eles desdenharam da nota e vieram com o dilema nabundiano: leva ou deixa? Dessa vez, no entanto, meu pai tinha a resposta na ponta da língua:
- Nabunda nada!
E, desse momento em diante, passou ele mesmo a ser um veterano no front escolar de ofensas cerebrais, onde menino só sobrevivia se tivesse uma mãe em casa, pra manter pura e casta, e outra mãe na rua, pra ser objeto da desonra dos amigos.
PS: da primeira vez que meu pai contou essa história, e eu devia usar lá minhas calcinhas curtas, eu sugeri uma saída menos genial, mas bonitinha até: Nabunda usava bóia nos braços.
<< Home