Ornella Mutcho, Ornella Demais

Eu gosto pra cacete do meu nome. Eu casaria com meu nome. Eu teria um sonho erótico com meu nome.

Tenho muita pena das pessoas com nomes escrotos, pois nome escroto dá uma brochada legal. É que nem voz escrota: a criatura pode ser toda linda, carne dura, cabelo tchans, pele boa, mas se abre a boca e tem aquela voz fina, esganiçada... a brochada é geral. E com nome é aquela coisa: você não espera nada de uma pessoa batizada Geslane Cristina, Welingson Carlos , Rosineide Maria ou qualquer outro nome com Y, W e duplas consoantes: o que vier desses pobres diabos é lucro. A expectativa, reparem bem, é zero. Culpa da numerologia essas pessoas terem pouca sorte na vida? Não! Culpa dos pais que não sabem escolher uma porra de um nome decente.

Eu penso nisso o tempo todo. Penso nos nomes que darei à minha prole. Têm de ser simples. Simple is beautiful. Eu gosto de Ana, de Maria e de nomes de duas sílabas em geral, com lots of As. Mas o limite entre simples e simples demais, simplório (tadim), é muito sutil. Um nome feio ou ainda que bonito, mas simples demais, denota humildade, subserviência. Como Ana, por exemplo. É um nome lindo, mas sem a proteção de um par (Ana Maria, Ana Luíza, Ana Terra, etc), fica fragilizado, exposto. O perigo reside justo aí: combinar nomes não é tarefa para principiantes. Na dúvida, consultem um numerólogo. Ou um bom humorista, que é a categoria profissional mais indicada para previnir o nome-de-chacota que vitimiza milhares de brasileiros todos os anos.

É uma idéia de jerico até romântica: certos casais optam por escolher, cada um, um nome pro mesmo filho a fim de evitar disputas ("os olhos são meus, o nariz é igual ao meu, a boca é minha, o nome fui eu que escolhi..."). O chato é que esses muares não se importam se os nomes combinam ou não. Se são cacofônicos ou não. Se os filhos vão virar a chacota da escola ou não. Prova disso é que a todo momento nos deparamos com dezenas de nomes compostos contrangedores, como Marcos Valério, Carla Sofia, Fátima Bianca e Cleverson Carlos.

Aliás, vou revelar aqui: tenho o pior exemplo disso em minha própria família: meu avô se chama Ilton Hemetério. E, não: Hemetério não é sobrenome: é prenome mesmo, por mais incrível que pareça. Este acidente nominal se deu porque, na taba onde vovô nasceu, era costumeiro batizar a criança com um nome + o nome do santo do dia, sem qualquer noção de ridículo. Assim, meu avô já se daria mal por ter pais que escolheram o duvidoso "Ilton", mas a cagada maior foi ele ter nascido justo no dia de São Hemetério. Aí foi demais: ninguém sabe quem é São Hemetério ou que milagre ele produziu, mas ele tinha de ser celebrado justo no dia em que meu avô nasceu! Pra piorar tudo, quando meu irmão - o mais velho da ninhada - veio a este mundo, meu pai correu no cartório pra registrá-lo com o nome de SEU pai, meu avô de nome duvidoso. Assim, meu irmão virou Ilton Hemetério dos Santos NETO! Seria até engraçado se não fosse trágico: minha mãe queria batizar meu irmão de Leandro (lindo nome, por sinal!). Meu irmão, coitado, até que se deu bem na vida (a despeito do nome), mas tenho a impressão de que se ele se chamasse Leandro, a sorte lhe teria sorrido mais. Bem, são conjecturas, apenas conjecturas.

Fica então o recado: prestem atenção aos nomes de seus amigos e colegas de trabalho. Notem que por trás de cada nome horrível esconde-se uma pessoinha complexada, sempre disposta a agradar a todos. Mas não é culpa dela: a culpa é dos pais! Freud nunca esteve tão certo.

PS: Alguns nomes feios são eleitos por profissionais do sexo como nomes de guerra. Não vou citar exemplos pra não ficar pouco elegante, mas acho que as putas (palavra nada elegante, mas uma palavra da vida!) sabem, melhor que qualquer outra mulher, que homem que come puta (profissional ou não) está comprando a idéia da subserviência. E nada melhor que um nomezinho feio pra deixar isso bem claro.