Este é o meu quartinho de bagunça. Da embalagem vazia de Chokito ao último livro do Saramago que eu não terminei de ler, você encontrará aqui de tudo um pouco.

terça-feira, janeiro 24, 2006

A mulher de 33 repensa sua orientação sexual.



Fazendo um balanço bastante realista de sua vida razoavelmente esclarecida, a mulher de 33 começa a desconfiar que sua orientação sexual, aquela que praticamente a obrigaram a escolher tão ou mais cedo que o curso universitário, pode ter sido uma escolha equivocada.


É sabido que o vestibular obriga o adolescente a fazer uma opção de carreira precoce, da qual muitos se arrependem. Eu, por exemplo, na impossibilidade de decidir o que queria, fiz vestibular para Veterinária e Psicologia; para minha desgraça, dúvida existencial e horror, eu passei nas duas provas. Acabei parando na Rural depois de ter me consultado com uma astróloga e taróloga que tinha 5 cachorros, 2 jabutis e 3 gatos; nem preciso dizer que ela achou veterinária a minha cara e foi longo desfilando uma mar de trígonos de rosas pelo meu ciclo solar estrelado, com bons presságios que nunca ocorreram, pelo menos não como essa vaca doida antecipou. Detesto cuspir sobre o diploma emoldurado, mas se eu tivesse ouvido meu saudoso professor de português, e não uma maluca de cabelo vermelho que atende pela alcunha de Madame qualquer coisa, eu hoje poderia ser uma Paula Coelha - ou seja, uma fraude tal qual eu sou como veterinária, mas pelo menos uma fraude muito mais rica.


Isto tudo me faz pensar que, se minha vida adulta começou assim tão equivocada, talvez eu devesse ter optado por ser gay lá no início. Se o Marcelo Capivara nunca tivesse enfiado a língua na minha goela naquele fatídico baile de carnaval de 1986, eu talvez tivesse me encantado por alguma odalisca solitária que fora ao baile do Atlético Clube de Miguel Pereira obrigada por sua família (pra arrumar um namoradinho, boba) naquele mesmo dia. E nós teríamos nos unido contra nossas famílias patéticas e teríamos sido namoradas em segredo até o ingresso na universidade, quando nossas vidas tomariam rumos diferentes (ela faria Engenharia, e eu Comunicação). E já na ECO, eu logo me apaixonaria por uma professora 20 anos mais velha, que me seduziria com suas histórias do exílio em Paris, e com quem eu só faria amor em francês e estaria casada até hoje, não fosse ela ter morrido de câncer, já que fumava que nem uma chaminé.


Ou seja, se eu tivesse optado por ser gay lááááá atrás, minha vida afetiva teria sido muito mais simples, com muito menos sobressaltos. Mesmo relevadas nossas alterações hormonais, mulheres são mais estáveis afetivamente que os homens. Mulheres, a despeito do que o puto do Sigmundo disse, SABEM O QUE QUEREM E SABEM A QUE VIERAM. E a gente não quer diamante, não! A gente não quer vista pro mar nem carro do ano, não, seus cegos! A gente quer toque, quer troca; a gente exige conteúdo, mas não abre mão de gentiliza, carinho, sinceridade, poesia, amor e amizade. E já que eu estou falando de quesitos intangíveis mesmo, a gente gostaria que vocês, bobões, estudassem só um pouquinho o modus operandi do Vinicius de Moraes.


Não sei se vou virar a casaca a esta altura do campeonato, mas também não estou bem segura de que eu ainda tenho fé no macho de nossa espécie. Tenho a incômoda sensação de que o próximo cara por quem eu me apaixonar me dirá, depois de 30 dias intensamente maravilhosos de amor, que tem uma ex-namorada pra quem ele tem de voltar correndo, senão a coitadinha corta os pulsos.


Se isso voltar a acontecer, bicho... eu tasco um piercing na língua e vou correndo me matricular num curso de paraquedismo para moças. É burrice demais limitar a busca da minha cara metade a um universo que hoje em dia nem chega a 50% da população mundial.