Obrigada, 2006.
Amigos, me perdoem: eu não consegui ligar pra ninguém ontem para desejar feliz ano novo. Primeiro porque passei a virada na Av. Atlântica, onde milhares de pessoas com celulares GSM congestionavam as antenas da TIM e da Oi, segundo me convenceram (estavam tentando me convencer a aproveitar a festa por pura pena de ver aquela criaturinha de branco discando e discando, psicamente, sem sucesso). Depois de muito sacrifício, consegui falar com minha avó; chorei pra caramba porque - eu já estava meio alta - aparentemente minha vó não me ouvia dizer: "Vó, tá me ouvindo? Eu te amo, vó! Tá me ouvindo?", o que só retroalimentava o rio de lágrimas.
Mas nem tudo foi chororô na despedida de 2005. Fui vestida de mãe de santo (filha de Yansã) a uma festa no Chopin, onde as pessoas usavam lantejoulas douradas e prateadas com saltos que eram verdadeiras armas brancas. Tive um certo medinho de ser barrada na portaria por causa do visual despojado, mas minha sorte é que entrou comigo uma gringa bem vestida que me perguntou em um esforçado portunhol se era ali a festa da Maria Paula, ao que eu respondi em bom inglês que sim, e aí ficamos melhores amigas na mesma hora, ufa!, e o homem de preto com fone no ouvido deixou a gente subir. Foi até meio fácil demais, pra falar a verdade. (Fica a dica pro ano que vem.) Depois de três taças, comecei a achar que estava abafando de mãe de santo e invadi a pista de vez, deixando as moças de lantejoulas e decotes que impedem posturas relaxadas no chinelo. Literalmente. Ninguém dança com aqueles saltos, ha ha ha, mas eu dancei e muuuuito! Ainda mais com um DJ daqueles, aí é até covardia...
Quase na hora dos fogos, a galera desceu com pulseiras do edifício e taças de acrílico para ver o show do chão, que é de onde se deve ver o espetáculo pirotécnico do reveillon de Copa. Aliás, o mais bonito dos últimos 5 anos. Eu fiquei uns 2 minutos no apê, só pra ver contagem regressiva no céu (que não rolou), e acabei descendo 12 andares de escada, na carreira, pra fugir da fila do elevador. Levei espumante, boa companhia, 7 caroços de romã e corri pra dentro do mar, frio pra cará, onde pulei 7 ondinhas, tudo comme il fault. Pisei tão forte com o pé direito que acabei cortando o pobre num caco de vidro, mas a essa altura eu estava tão bêbada que achava tudo lindo: o pé sangrando, a sandália vermelha, as pessoas felizes. Nada me doía: eu era pura alegria. Um pretinho de cabelo alourado e camisa do Flamengo correu a me abraçar e eu achei aquilo muito natural: como o brasileiro é alegre, festeiro! Eu adoro gente, gente é bom demais.
Contudo, as 12 horas de alcoolização ininterruptas começaram a me pesar, apesar dos 5 litros d´água que bebi nesse interim, e eu acabei voltando a pé pra casa às 3h30. E não tive um pingo de medo: pela primeira vez me senti protegida pela multidão.
Esta é a melhor cidade do mundo pra se celebrar a virada do ano. 2006 começou bem pra caramba. Agora só resta torcer pra que os outros 364 dias sejam assim, tão felizes.
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