Este é o meu quartinho de bagunça. Da embalagem vazia de Chokito ao último livro do Saramago que eu não terminei de ler, você encontrará aqui de tudo um pouco.

terça-feira, janeiro 03, 2006

Sem tempo pra sofrer.



O fim de 2005 foi uma catarse tão intensa que eu não tive tempo nem pra sofrer. Foi assim que eu deixei pra lá um acidente de carro que eu tive na saída da hora do almoço no trabalho, quando fui atropelada por uma imprudente bicicleta de carga há cerca de 10 dias. Do retrovisor, dava pra ver que o danado do ciclista tinha arranhado e amassado toda a porta do meu Celta, então eu já saí do carro com 2,20m de altura e 150kg de pura ira. Só que o algoz do acidente me desmontou quando começou a tremer e a me pedir desculpas pelo ocorrido. Eu pedi, fingindo indiferença: "Me dá o cartão da sua firma." (ha ha ha, eu não existo!) E ele: "Eu trabalho pra mim mesmo." E eu: "Então me dá seu telefone." E ele: "Vou te dar o da minha irmã que eu não tenho telefone." Eu anotei um número que começava por "28". Perguntei, olhando bem no meio das pupilas dele, pra ver se elas dilatavam (pupilas dilatam quando mentimos): "Você está inventando esse número agora, não é?", ao que ele respondeu: "Não, esse número é de ..." e disse o nome de uma localidade que eu nunca tinha ouvido falar, e que talvez nem exista, pois ele me distraiu com esse falatório e eu nem reparei se as pupilas dele dilataram ou não.

Aí, de volta pro trabalho, o Guarda Belo me arrasou: "Você não devia ter saído do local do crime assim, devia ter esperado a polícia. Podia ter me ligado!" E eu, tentando contemporizar: "Mas eu não queria bloquear o trânsito.". E ele, me finalizando: "Agora vai pagar essa lanternagem do seu bolso, bem feito."

Subi oito andares de escada pra não ter uma úlcera péptica. No sétimo andar, encontrei uma colega de trabalho, grávida de gêmeos, e esqueci completamente do arranhão até hoje, quando encontrei em meio às minhas 3 toneladas de papéis de bagunça, o suposto telefone da fictícia irmã do ciclista trapalhão. Ainda não decidi se vou ligar ou não. Ainda estou sem tempo pra sofrer.