Nublada
Dias nublados são o expurgo da alma. É na turbidez suja de seus cinzas que eu estendo meu uniforme de sofrer, puído do uso.
O horizonte fica mais distante num dia nublado: o olhar se perde naquela linha que nunca chega e, não raro, uma grossa lágrima rola face abaixo numa débil tentativa de se juntar ao oceano em que flutua o infinito e trazê-lo mais perto. As lágrimas de dor e chuva que brotam num dia nublado são operárias tristes que não mais sonham com o retorno do marido: apenas esperam que ele tenha morrido sem dor. Gotas de resignação.
Dias nublados são a redenção da felicidade, que alegria demais intoxica. E, assim como o dia tem 24 horas, a felicidade tem hora pra acabar. Que se não tivesse, os poemas mais belos não teriam sido escritos.
(e me dói saber que alguém possa fazer uso leviano de poemas e poetas para agredir outrem)
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