Este é o meu quartinho de bagunça. Da embalagem vazia de Chokito ao último livro do Saramago que eu não terminei de ler, você encontrará aqui de tudo um pouco.

quarta-feira, maio 10, 2006

Nublada

"Imprisoned soul", foto roubada do Flickr de alguém

Dias nublados são o expurgo da alma. É na turbidez suja de seus cinzas que eu estendo meu uniforme de sofrer, puído do uso.

O horizonte fica mais distante num dia nublado: o olhar se perde naquela linha que nunca chega e, não raro, uma grossa lágrima rola face abaixo numa débil tentativa de se juntar ao oceano em que flutua o infinito e trazê-lo mais perto. As lágrimas de dor e chuva que brotam num dia nublado são operárias tristes que não mais sonham com o retorno do marido: apenas esperam que ele tenha morrido sem dor. Gotas de resignação.

Dias nublados são a redenção da felicidade, que alegria demais intoxica. E, assim como o dia tem 24 horas, a felicidade tem hora pra acabar. Que se não tivesse, os poemas mais belos não teriam sido escritos.

(e me dói saber que alguém possa fazer uso leviano de poemas e poetas para agredir outrem)