Este é o meu quartinho de bagunça. Da embalagem vazia de Chokito ao último livro do Saramago que eu não terminei de ler, você encontrará aqui de tudo um pouco.

domingo, maio 07, 2006

Voz

Os mudos, esganiçados e fanhos que me perdoem, mas voz é fundamental. Um nódulo de cordas vocais me empurrou, pela segunda vez na vida, pra fonoterapia a perder de vista. Preciso reaprender a não estrangular, muitas vezes por empolgação, o ar que me sai da garganta. Minha linda fonoaudióloga, Clarisse, tem me ensinado a encontrar a voz virginal da moça loura, uma voz higiênica e enjoadinha que fica diametralmente oposta à minha, em brilho e intensidade, que é pra facilitar meu encontro com o caminho do meio. Ah, o caminho do meio! Como é difícil encontrar essa bosta. Sigo - argh! - tentando.

Pois bem. Eu acho que Marisa Monte é o caminho do meio. Tenho ouvido os discos dela que eu detestei de cara, todos baixados do e-mule (fuck you, EMI!), mas que do dia pra noite acordei amando. MM não é o rasgo sangrante da Elza Soares nem o quase falsete infantil da igualmente amada Billie Holiday, ou seja: é o equilíbrio mais-que-perfeito. Ela sabe respirar, sabe articular, sabe afinar e, ainda por cima, embala e emociona. Meu coração bate ao ritmo de suas notas límpidas impulsionadas pelas consoantes relevantes das letras que ela aprendeu a compôr. Linda menina, a Marisa.

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Conhecer gente pela internet é furada: saí do www.parperfeito.com.br por isso. Não dá pra conhecer uma pessoa cuja voz você desconheça. A voz entrega tudo: o mal caráter logo se acusa pela voz, pelas pausas mal ensaiadas, pelos clichês e vícios exclusivos da fala: "Gataê", "Aê-gata", "Minha linda"... se falar algo do gênero, há 87% de chance d'o cara ser galinha e cretino.

Já troquei e-mails maravilhosos com um moço bacanerérrimo por semanas, mas na véspera de nosso primeiro encontro, tive a sobriedade de pegar seu telefone. Por sorte, eu liguei a tempo de desmarcar: o cara tinha voz fina. Nem sei bem se era isso, mas a verdade é que ele tinha uma cara (quadrada, de cavanhaque) incompatível com aquela voz. Não dá pra confiar num homem de voz fina. Aliás, não dá pra confiar em ninguém com um fiapo de voz.
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Tenho inveja dos esquizofrênicos. Quem me dera ouvir vozes! Alguma voz que me dissesse: vamos malhar hoje? Vamos sair dessa cama? Vamos fazer uma viagem? Vamos comer macrô? Vamos fazer algo que preste? Na verdade, eu não queria só a voz, queria o resto todo: uma voz dotada de braços e pernas, um corpitcho assim-assim, que me jogasse na cama e... bem, deixa pra lá.

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De tudo o que já foi dito sobre o amor, a maior verdade (0u a menor mentira) é esta: o amor nasce quando a voz sussurrada ao pé do ouvido segue, fluida e languidamente, até o coração.