Este é o meu quartinho de bagunça. Da embalagem vazia de Chokito ao último livro do Saramago que eu não terminei de ler, você encontrará aqui de tudo um pouco.

quinta-feira, maio 04, 2006

Campanha pela velha e boa carta de amor.


TeAmo, a luso-brasuca de nome mais sugestivo de Lisboa, ao me mandar a imagem de um selo carimbado, despertou nesta blogueira que vos escreve uma vontade louca de carregar a caneta tinteiro, tirar da gaveta os papéis de carta colecionados ao longo da vida junto com as bolachas de chope, escrever uma carta de amor, borrifá-la com óleos essenciais de patchouli e flor de laranjeira, lacrar o envelope com minhas iniciais em cêra vermelha e mandá-la, assim, pelo correio mesmo, como nos velhos tempos, pra um dos meus homens eternos. Porque alguns homens são eternos.

Conclamo, portanto, todos vocês a fazerem o mesmo. Pra quem não lembra como se manda uma carta de papel, eis aqui um guia de referência rápida:
Para escrever uma carta de amor, você vai precisar de:
1) um amor, ainda que platônico, com endereço postal completo
(rua, número, complemento, cidade, estado e CEP);
2) papel em branco;
3) envelope em branco;
4) caneta.

Preenchendo o papel em branco:
1) Ponha a data no topo da folha, precedida da cidade de onde escreve (ex.: Rio de Janeiro, 04 de maio de 2006);
2) Evoque o destinatário amorosamente, de preferência pelo nome ou apelido íntimo (evite nicks de chat ou Messenger, como gattocarioca2357, que isso remete à banalização do afeto);
3) Pense no objeto de seu amor e escreva indiscriminadamente tudo que lhe vier à mente, evitando vírgulas e abusando de hipérboles, metáforas e citações de poetas;
4) Jamais leia o que escreveu, que a leitura crítica de uma carta de amor faz o autor se sentir totalmente ridículo, óbvio, pois todas as cartas de amor são ridículas;
5) Beije a carta com seu melhor perfume, chore um pouco em cima dela, borrando o sentido de algumas palavras com suas lágrimas, e feche o envelope enquanto mata a última gota de uísque ou vinho de seu copo-companheiro de composição.

Preenchendo o envelope:
1) A frente do envelope é aquela onde tem uma aba e um buraco pra enfiar a carta dentro: logo abaixo da aba, coloque os dados do remente - você, no caso: evite colocar peso, altura e signo, porque pros correios só importa mesmo seu nomezinho e endereço postal (aquele com rua e CEP);
2) No verso do envelope, coloque o nome e endereço postal (aquele bla, bla bla) do destinatário, pessoa pra quem você quer mandar sua carta de amor. Se você não souber o endereço do destinatário, descubra onde ele almoça, trabalha ou estuda, vá até lá e peça pra algum voluntário com carinha idônea entregar a carta por você. Saiba de antemão, contudo, que há 67% de chances de sua carta ser lida pelas pessoas erradas e você ter de mudar de cidade por causa das chacotas resultantes.

Despachando pelo correio:
Mistério algum: dirija-se a uma agência, entre numa fila e peça carta registrada com aviso de recebimento, porque se você não fizer questão absoluta de saber quando o FDP do seu amor eterno leu e quanto tempo ele demorou pra responder, você não é você.

Despachando pela caixa de correio:
Compre um selo bonitinho numa banca - ou dois, pra garantir -, passe cuspe no selo (ai, tenho horror a selo adesivado!), cole-o no verso do envelope e enfie numa dessas caixas amarelas que ficam geralmente presas a um poste azul-marinho. É dificílimo de encontrá-las hoje em dia, portanto espero que você consiga fazê-lo em vida.

Despachando numa encruzilhada:
Algumas pombagiras recomendam que a carta de amor seja despachada junto com um frasco de perfume barato, uma rosa vermelha, uma vela de sete dias e uma garrafa de uísque uruguaio na encruzilhada mais próxima de seu amor. Se o despacho não resultar em nada, pelo menos algum mendigo terá encontrado um kit-romance da melhor qualidade, e vai rir muito da sua cara lendo sua carta de amor ridícula pra galera, à luz de vela de sete dias.