Este é o meu quartinho de bagunça. Da embalagem vazia de Chokito ao último livro do Saramago que eu não terminei de ler, você encontrará aqui de tudo um pouco.

segunda-feira, maio 08, 2006

O analista de Bagé no metrô

Trudia, pegando o metrô pro centro, saquei "Todas as Histórias do Analista de Bagé" e comecei a ler pra chegar logo. Ah, pra quê?! A cada linha lida, eu me contorcia na cadeira pra refrear as gargalhadas que explodiam em meu peito. Não sou mulher de esconder o que sinto: e se acho graça, gargalho; se tenho medo, corro desembestada; se tenho nojo, vomito. Acontece que há lugares e horas em que a gente tenta controlar os baixos instintos pra fomentar o sonho de uma sociedade mais bela e harmônica.

Passadas duas estações, eu já tinha abafado umas dez gargalhadas viscerais, tendo feito meu fígado trocar de lugar com o rim esquerdo no processo, tamanha a força repressora que eu fiz. Até que me chega a página 45, onde o Analista recebe um paciente com um puta complexo de inferioridade e manda: "Tu tem é vaidade, tchê! Conheço muita gente inferior como tu, mas nenhuma pensa que isso é doença." Aí eu não me agüentei: seguindo o princípio d"o que é um pum pra quem já está cagado?", eu achei que não haveria nada demais em deixar escapar uma gargalhadinha apenas no vagão. Acontece que o acúmulo de cinco gargalhadas reprimidas me fez gargalhar que nem um exu nessa hora, e aí o metrô quase descarrilou. A mulher cujos livros eu voluntariamente segurava, pediu-os de volta e foi ficar de pé noutro canto do vagão, olhando-me desconfiada. Com medo do pior, fechei o livro e cheguei mesmo a respirar fundo pra me recompôr; pinguei Lerin nos olhos porque, de tanto rir, minha cara e olhos tinham ficado vermelhos. Limpei os óculos, tentei ficar 5 segundos sem ler, mas não teve jeito: corri a abri-lo na página 51, em que o Analista se embola no chão c'uma gaúcha chucra, numa cena digna de sátira tevêpirateana do defloramento de Juma Marruá. Aí eu apertei as duas mãos espalmadas na frente da boca e, vendo que não daria pra segurar aquela explosão, mergulhei minha cara na mochila e me larguei: gargalhei quase gritando. Doíam-me todas as costelas e a barriga, tanto que ri. O moço ao meu lado se levantou assustado, e eu, enviesada no assento, não tinha forças pra lhe dar passagem e permitir sua saída do meu perímetro de riso insano, o que resultou num balé de pernas que me fez rir ainda mais incontrolavelmente, enquanto eu dizia - entre lufadas de ar gargalhado: "pode passar, UAHUAHAUHAUAH, me desculpe, sim? HAHAHAHAHHAHAHAHAH, não consigo UHAUHAUAHUAHUAHAU levantar... UHAUHAUAHUAUAUA... ai, me desculpe". E eu não queria olhar em volta pra não rir ainda mais da cara das pessoas, mas a esta altura do campeonato eu já ouvia gente gargalhando no extremo oposto do vagão, ora cartesianamente dividido entre os que me riam de mim, os que riam comigo e os que tinham medo ou ódio de mim.


Finalmente chegou minha estação, eu me segurei no assento e fiz respiração de cachorrinho pra parar de rir e encontrar forças pra levantar. Meu rosto pegava fogo de vergonha. Agora eu acho de bom tom passar uns 6 meses sem andar de metrô no Rio, senão vão me obrigar a ir no vagão sarro-free de mulheres, onde condições ideais de temperatura e pressão jamais permitiriam que eu me comportasse mal daquela forma em público.

De minha parte, está resolvido: nunca mais levo Verissimo pra fora de casa.