Este é o meu quartinho de bagunça. Da embalagem vazia de Chokito ao último livro do Saramago que eu não terminei de ler, você encontrará aqui de tudo um pouco.

quarta-feira, maio 24, 2006

Pecado capital: preguiça

Foto roubada do Flickr desta pessoa

Confesso, sem o menor pudor, que eu pratico regularmente quatro dos sete pecados capitais. Contudo, aquele em que eu mais me sinto em casa, por onde passeio desgrenhada só de camisola e pantufas, definitivamente, é a preguiça. Sou tão fã da preguiça que nem sei de onde tiraram que isso é pecado. Ainda mais capital! OK, se eu fosse um país, minha capital seria uma cidadezinha sem energia elétrica, sem escadarias, sem ladeiras e sem segundas-feiras chamada Distrito Preguiçal.

Morro de preguiça de trabalhar, mas tenho 3 empregos. Um deles é freelance, o que em princípio pode parecer uma ótima idéia porque pode ser feito à qualquer hora. Na hora de dormir. Na hora de comer. Na hora de bundar. Ou seja, nas melhores horas da vida. E eu vou empurrando com a barriga... vou deixando pra amanhã... Aí, quando o prazo está quase me engolindo, eu viro duas noites sem dormir, tomo dez latas de Redbull, fico neurótica, perco os cabelos, tenho gastrite, pego um resfriado e termino na bucha. Muitos dias depois, quando eu ainda estou traumatizada com todo esse estresse desnecessário e recebo o pagamento mixuruco por aquelas noites viradas em função da minha preguiça e desorganização, prometo a mim mesma nunca mais fazer isso!!! Entendendo-se por "isso" não a desorganização e preguiça, coisas inerentes à minha pessoa, mas sim o trabalho freelance que não se adapta ao meu jeito sloth de ser. Nem por muito dinheiro. Mas eu sempre acabao aceitando os freelas que me caem no colo. Minha memória traumática é inversamente proporcional às minhas necessidades financeiras oriundas do perdularismo. Este sim, um pecado que merecia ser capital dez vezes antes da preguiça ou da gula.

Este mês, tirei férias de um dos meus empregos fixos, mas nem senti que estava de férias porque continuei ralando nos outros dois. Faltam 7 dias para acabarem minhas férias e, subitamente, me bateu aquele desespero típico da iminência do fim. Não fiz nada do que queria fazer nas férias! Li apenas 3 dos 10 livros que separei (eram seis, que se tornaram 10 só pra que eu não desse conta mesmo). Não coloquei minha vida em dia. Não fui ao cinema 3 vezes por semana, não fui à praia, não malhei todos os dias, não andei de bicicleta, não sacudi o esqueleto em uma boate em plena quarta-feira, não enchi a cara, enfim: estou decepcionada com minha produtividade de lazer. Em vez de fazer tudo isso, eu acordei às dez sempre que pude (porque geralmente eu acordo às seis), passei horas falando com amigos ao telefone, fiquei mais tempo vestindo pijamas que roupas convencionais, passeei pela internet, escrevi umas besteiras, comi umas outras, dormi à tarde, arrumei um armário que eu não abria há anos e perdi as olheiras. Ou seja, exerci minha preguiça em toda a sua plenitude. Talvez tenha engordado uns 2 kg, e eu tenho preguiça só de pensar no quanto eu vou ter de rebolar pra voltar a vestir meus jeans com alguma dignidade.

Não tivesse sido a viagem à Porto Alegre, este sim meu maior momento de curtição do ano, eu poderia decretar que joguei mais um mês de férias no lixo por pura preguiça. Minha analista de Bagé diz que, nas férias, as pessoas querem descansar, e não trabalhar. Ela tem razão: na verdade, dá um trabalho danado se divertir. Bom mesmo é este edredon verde, que me namora enquanto eu quase desmaio sobre o teclado, me dragando pro que há de melhor num dia chuvoso como este, que é, obviamente - e que me desculpem os que estão trabalhando neste exato momento - dormir.