Porto Alegre é outro país.
Sei que dois dias não encerram opinião definitiva sobre um lugar em viagem alguma, mas neste curto período aqui em Porto Alegre eu pude constatar que as ruas limpas, os jardins bem cuidados, o trânsito organizado, os motoristas condicionados a respeitar o pedestre e até os grafites multicoloridos e esteticamente viáveis em nada lembram as outras partes do Brasil ao norte daqui. Talvez Curitiba. Talvez uma ou outra cidade em que a miséria não tenha extrapolado o nível do absurdo. Mas, definitivamente, um carioca tem tudo pra se sentir estrangeiro nesta cidade.
Primeiro porque, aqui, as mulheres são magras. Não magras, como as pessoas normais, mas Gisele Bündchenmente magras. Fui a um shopping ontem e passei 5 minutos observando a fila de bundas femininas na minha frente. Bundas cotidianas, do tipo que vai ao cinema assistir um filme pipoca no sábado. Eram bundas despudoramente desprovidas de carnes, acopladas a pernas entre as quais passaria com folga um gato gorducho, mesmo estando os joelhos colados. Da adolescente à quarentona, todas magras. E olha que aqui a sobremesa é de graça!
E uma coisa super preciosa que pude ver ontem num alegre jantar de aniversário: como o italiano está presente à mesa! É a primeira língua que vem à mente na hora da ofensa - ma che deficiente!, ma che imbecille! -, e na hora da cortesia - mangia che te fa bene. E a gente mangia, é claro. E como se come bem no Rio Grande!
O gaudério é um tradicional. A cuia passa de mão em mão, assim como todas as outras tradições. A bombacha é considerada traje de gala oficialmente autorizado, em substituição ao black tie. Os artistas que cantaram as belezas do sul acabaram se tornando políticos, como o Fogaça, compositor de "Porto Alegre é demais", que se tornou prefeito desta cidade. Há dicionários de gauchês com mais de 10 mil verbetes. Não é de se admirar que o sul já tenha tido seus rompantes separatistas, que vez por outra pipocam de forma arrefecida numa conversa regada a muito vinho.
Tudo isso me faz pensar que a solução para muitas de nossas mazelas sociais seja a valorização da cultura e da tradição familiar. Porque a identificação do indivíduo com a o grupo, o fortalecimento da auto-estima e o respeito ao próximo tornam o homem menos selvagem, mais consciente das necessidades coletivas e menos inclinado a votar num garotinho qualquer em troca de um boné. A cultura no Brasil, um dia, terá de ser levada a sério.
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