Este é o meu quartinho de bagunça. Da embalagem vazia de Chokito ao último livro do Saramago que eu não terminei de ler, você encontrará aqui de tudo um pouco.

quinta-feira, junho 22, 2006

O barulhéu do meu país

Saíra em pose nacionalista na casa da Pordeus. Não ia ser fofinho trocar cornetas pelo canto dos passarinhos?

Não assisti a mais um jogo do Brasil porque fico nervosa; e porque eu não assisto e o Brasil ganha mesmo assim, concluí que sou um tremendo pé frio, e portanto não posso assistir a nenhum jogo, nenhunzinho, sob o risco de o nosso time perder e eu ficar com todo o peso da frustração nacional em minhas costas.

Ver a bola rolando, que é (ou não) bom, eu não vejo; fico aqui no computador, dando um duro medonho, prestando uma atenção danada na voz do Galvão Bueno lá na sala e ouvindo os gritos, trombones, cornetas e outros objetos fálico-sonoros que eu enterraria nos orifícios todos desses barulhentos malditos se tivesse uma chance. Aí o barulhéu anuncia: é goooooooooool! Corro à sala pro abraço, vejo os meninos da seleção felizes, pulando uns nos outros, e fico arrepiada, com os olhos marejados de lágrimas. Aí os fogos pipocam, as cornetas ensurdecem, eu penso no meu peludinho que tem pavor de ruído, e choro de verdade. Hoje foram quatro pequenos surtos de chororô: primeiro de emoção, depois de pena do meu Povico, tadico, que não entende por quem cornetam os rojões. O Brasil tem muito barulhinho bom, mas cornetório e foguetório de Copa estão entre os piores da lista dos mais horríveis.

Ia ser muito bom se depois de cada gol o Brasil explodisse em música: samba, que nada combina melhor com futebol. Ou em cantos orquestrados de passarinhos verdes e amarelos, um som nacional, ufanista, estilo minha-terra-tem-palmeiras-onde canta-o-sabiá. Tudo bem que os passarinhos teriam de parar de cantar alguma hora, senão eu mesma cantaria pra eles a ameaçadora "Passaredo", do Chico:

Some, coleiro
Anda, trigueiro
Te esconde colibri
Voa, macuco
Voa, viúva
Utiariti
Bico calado
Toma cuidado
Que o homem vem aí


Não sei se é a idade que me faz reclamar de barulho, pois é bem verdade que há 15 anos eu fazia tanta zoeira (sem corneta, até porque meu grito é mais potente que qualquer instrumento de sopro), que nem conseguia ouvir o ruído alheio. Só sei que é muito bom quando acaba o jogo e a paz retorna: não pela falta de barulho, mas pelo fim do medo de perder e voltar pra casa. Sei não, mas se esses meninos voltarem pra casa sem a sexta estrela, eu vou ficar muito fula da minha vida. Vou comprar corneta e tudo, vou tocar o terror na cidade do Rio de Janeiro.