Este é o meu quartinho de bagunça. Da embalagem vazia de Chokito ao último livro do Saramago que eu não terminei de ler, você encontrará aqui de tudo um pouco.

terça-feira, junho 20, 2006

VanOr responde - edição SUS

Nosso consultório sentimental hoje funcionará em regime SUS, com 3 consultados de pé fazendo perguntas breves pela grade da janela de atendimento que dá acesso à joelhaçoterapeuta VanOr. E vamos logo, que time is money no serviço público!

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X., fêmea, SRD, balzaca, moradora de Parada de Lucas:

Vanôr, minha filha: eu sempre gostei de hômi, sempre dei már que chuchu na serra, fui mãe pela terceira vez antes dos 18 ano, mas desqui a minha cunhada boazuda, Wanderléia, me agarrou à força na laje e me tascou uns beijo de arrancá dente, qu'eu não penso noutra coisa que não em mulé. Naquela mulé: um esculacho de mulé, cas coxa grossa assim, cus pêlo tudo loiro assim, e uns biquinho de peito, tudo durinho, que quasiscapole do topper de laicra. Se o Everson Clayton, meu marido, mais o Sanderson Jackson, irmão dele, me pega pensando essas bobage, perdi, Vanôr, perdi! De formas que meu pobrema é esse: o que eu faço pra voltar a sê tchutchuca e largá mão de sê fanchona?

Querida enrustida de Lucas,

Seu distinto marido Everson Clayton ainda dá no couro a contento? Se der, enquanto não tiver coragem de chutar-lhe a bunda, faça-o seu escravo sexual nos intervalos entre as tórridas sessão de sexo lésbico com sua cunhada, que a julgar pela numerologia do nome do marido (Sanderson Jackson, na mitologia numerológica, significa "viadão enrustido"), deve estar no zero a zero há tempos. O sexo com seu bofe vai atenuar provisoriamente sua culpa de ter trocado de opção sexual, o que, convenhamos, é coisa de gentinha pequena. Todo mundo vira a casaca: estão aí a Ana Carolina, a Preta Gil e a/o Michael/Latoya Jackson que não me deixam mentir. Vou reservar o joelhaço pro caso de você resolver falar grosso e coçar saco só porque resolveu transar com outra mulher. Mona power, u-hu! Mas ó: Vanôr de cu é rola. Meu nome é VanÓr.

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Y., macho-ma-non-troppo, Bichon Frisé, gaton de meia idade, morador do Leblon:

Cara VanOr, desculpe ter vindo aqui no SUS, mas a classe média está um horrorrrrrr de achatada, esta semana mesmo dispensei o motorista de mamãe e estou pensando seriamente em trocar a ração importada de meus Shitzus por um similar nacional, mas ainda não tive coragem de conversar com eles a esse respeito (não quero que eles saibam da extensão real da crise). Agora vamos à minha personal crise, que eu tenho 850 caracteres pra falar dela. Ou melhor, dele! Ele se chama Victor e, desconfio eu, ainda não sabe que é gay. Queria ser eu a dizer isso pra ele pela primeira vez em Paris, durante um jantar à luz de velas, mas ele acabou de ficar noivo de uma... argh... virgem... tijucana. Ou seja: ou ele tem o DVD de Anos Dourados, ou precisa conhecer um homem de verdade pra chamar de seu. Ainda que seja eu! Como faço pra catalizar a metamorfose dessa Barbie, Vana D'Or?

Querida Brisa da Primavera,

Como você mesmo observou, os sintomas de Victoria no seu amigo Victor são patognomônicos. Em casos extremos de negação como este, querida, o melhor que você faz é entregar pra Deus, sabe? Entrega pra Deus, que logo Victor se casará e terá três filhos. E um dia ele lhe procurará pra reclamar da vida conjugal de sexo inconsistente, e enquanto você finge que ouve e disfarça a empolgação, abrirá seu melhor champagne, tocará seu melhor CD e deixará que ele chore, chore à vontade em sua camisa Armani, que ele alisará a pretexto da incrível textura, e aí... Bem, e aí seja gentil com o Vic. Não esqueça que ele ainda será virgem então.

E quanto à ração dos seus Shitzus, economize em tudo, menos nisso. Peludoterapia se paga pelo estômago, meu bem.


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Z., fêmea, Puro Sangue Balzaquiano, moradora do Jardim Botânico.

Querida VanOr,

Eu sei que o tempo é curto, por isso vou resumir: eu amo o féladaputa, faço tudo pelo féladaputa, o féladaputa me chama pra sair o mínimo possível pra eu não desistir dele, fala que nossos filhos serão lindos, me deita na cama e me chama de lagartixa, some por semanas e aí, quando reaparece, vem com a notícia de que engravidou uma mocréia inexpressiva lá do trabalho. E, pra piorar, vem me pedir conselho: se ele casa ou não, se ele só assume o filho ou se ele muda de país pra sempre. No calor das emoções, eu o aconselhei a enfiarodedonocurasgarecheirar e ir pro diabo que o pariu. Falar foi fácil, mas a verdade é que estou sofrendo à vera, porque esse cretino sem-vergonha vivia me seduzindo com a idéia de que teríamos filhos, e agora está aí às voltas com um rebento que ele nem sequer cogitou. Por favor, acerte um joelhaço letal na fração de minha memória que armazena meus melhores momentos com ele. Tudo que quero é esquecer.

Querida Ludibriada em Crise do JB,

Não há joelhaço mágico pra isso. Esse tipo de traição cognitiva, só o tempo resolve. Traição cognitiva, porque ele nunca assumiu um compromisso com você, de fato. Você se deixou enganar pelo slogan do outdoor, mas não foi capaz de ler a advertência do ministério da saúde, em caixa 6, na margem vertical esquerda, no canto inferior que dizia: esse cara é um galinha. O tempo resolve isso da seguinte forma: operando pra que você se perdoe por ter sido tão tonta a ponto de amar um cara com objetivos de vida tão diferentes dos seus. No início, a gente se odeia por ter perdido nosso tempo e por ter se doado em vão, mas depois brota o alívio de saber que seu útero não gerou um filho indesejado pelo pai; que sua vida familiar não virou pretexto para o inferno de ninguém; e por fim, mas não por ser menos importante, que seus filhos nunca terão o caráter fraco desse medíocre candidato a pai e a ser humano. Que caráter, minha filha, é coisa que se herda. Nós, mulheres, senhoras de todos os úteros, detentoras do dom de renovar a população humana do planeta, temos de ser extremamente criteriosas na escolha do gameta masculino: não basta ser gato, tem de ter um QI avantajado; não basta ter QI elevado, tem de ter hombridade e um coração de ouro. Não basta ter tudo isso: tem de amar a gente.

Todo meu carinho e compaixão (de paixão co-sentida) pra você. Joelhaços, hoje, nem pensar: não quero ferir a mãe que dorme aí dentro, à espera do cara certo. Acredite, ele pintará. O Greg vive dizendo isso.
beijos triple X,

VanOr