O gigolô, meu pai.
Aqui em casa se janta al vino. E, como se sabe, in vino, veritas. Pois eis que meu papi, este senhor carrancudo, confessou - sob o efeito do álcool - seu tenebroso histórico de gigolotagem, que explica tantas coisas importantes em meu desvio de comportamento, e que ora lhes transmito em primeiríssima mão.
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Aos 7 anos, indo pra escola, meu pai ouviu uma gordinha de sua classe, sentada sobre o muro da estação, dizer pras amiguinhas enquanto ele passava: "Esse aí, ó, é meu namorado." Enfurecido e com o orgulho de macho ferido, meu pai avançou sobre as marias-chiquinhas da gorducha, arrancou-lhe do muro e arrastou-a pelos cabelos pelo pátio de terra batida, levantando poeira alta e lavando sua honra daquela inominável ofensa que era ser namorado de uma menina. Inda mais feiosa daquele jeito.
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Aos 8 anos, no carnaval miguel pereirense, meu pai ganhou umas moedas de seu pai, meu avô taxista, dinheiro suficiente para pular por três dias nas matinês do clube Estrela. Na cidade, havia um clube chinfrim, pobretão e brega - O Estrela, é claro! - e um outro, fodão, lindão e carão. Pois meu pai, gigolô profissional que era e sabedor do bom e do melhor, trocou todas as suas moedas por um dia de carnaval no clube granfino. Lá chegando, arrumou logo uma fã de cinco anos que o perseguia enquanto ele perseguia confetes e serpentinas. E o pai da pequena odalisca, encantado com o encanto dela por meu pai, passou a tarde a lhe pagar sorvetes e refrigerantes, luxos que meu avô só concedia em dia de aniversário. Ao fim do baile, o pai da noiva pergunta a meu pai: "Amanhã você estará aqui?". Ao que gigolôpapi diz, assertivamente: "Sei lá, ué." Isso foi o bastante para que o pretenso futuro sogrão lhe entregasse um monte de moedas, suficientes para comprar três dias de folia no Estrela. E foi justamente isso que meu pai comprou com o dinheiro, deixando sua primeira vítima iludida esperando-lhe em vão até o fim da quaresma. Um grande gigolô mirim, esse meu pai.
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Dos sete aos nove anos, meu pai saía da escola pra casa acompanhando a linha férrea. No caminho, encontrava sempre três meninas de sua idade a quem, como é típico de machos imaturos, ele tratava com a mais absoluta hostilidade. Assim que conseguisse catar do chão uma varinha perfeita, meu pai partia pra cima das três mariazinhas, varinha em riste, rugindo: "Vamu, vaquinha, anda!" E as meninas corriam. E se não corressem, tomariam uma varetada de meu gigolô e cruel pai fedelho. Um belo dia, no entanto, surgiu uma gorda mãe obliterando a via férrea. E perguntou a intimidadora esfinge ao meu gigolô-pai: "Quem é vaquinha aqui, heim?" Ao que ele respondeu, deixando a varinha cair-lhe displicentemente aos pés: "Minha mãe. Minha mãe é uma grande vaquinha."
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Um grande gigolô, esse meu pai.
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Aos 7 anos, indo pra escola, meu pai ouviu uma gordinha de sua classe, sentada sobre o muro da estação, dizer pras amiguinhas enquanto ele passava: "Esse aí, ó, é meu namorado." Enfurecido e com o orgulho de macho ferido, meu pai avançou sobre as marias-chiquinhas da gorducha, arrancou-lhe do muro e arrastou-a pelos cabelos pelo pátio de terra batida, levantando poeira alta e lavando sua honra daquela inominável ofensa que era ser namorado de uma menina. Inda mais feiosa daquele jeito.
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Aos 8 anos, no carnaval miguel pereirense, meu pai ganhou umas moedas de seu pai, meu avô taxista, dinheiro suficiente para pular por três dias nas matinês do clube Estrela. Na cidade, havia um clube chinfrim, pobretão e brega - O Estrela, é claro! - e um outro, fodão, lindão e carão. Pois meu pai, gigolô profissional que era e sabedor do bom e do melhor, trocou todas as suas moedas por um dia de carnaval no clube granfino. Lá chegando, arrumou logo uma fã de cinco anos que o perseguia enquanto ele perseguia confetes e serpentinas. E o pai da pequena odalisca, encantado com o encanto dela por meu pai, passou a tarde a lhe pagar sorvetes e refrigerantes, luxos que meu avô só concedia em dia de aniversário. Ao fim do baile, o pai da noiva pergunta a meu pai: "Amanhã você estará aqui?". Ao que gigolôpapi diz, assertivamente: "Sei lá, ué." Isso foi o bastante para que o pretenso futuro sogrão lhe entregasse um monte de moedas, suficientes para comprar três dias de folia no Estrela. E foi justamente isso que meu pai comprou com o dinheiro, deixando sua primeira vítima iludida esperando-lhe em vão até o fim da quaresma. Um grande gigolô mirim, esse meu pai.
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Dos sete aos nove anos, meu pai saía da escola pra casa acompanhando a linha férrea. No caminho, encontrava sempre três meninas de sua idade a quem, como é típico de machos imaturos, ele tratava com a mais absoluta hostilidade. Assim que conseguisse catar do chão uma varinha perfeita, meu pai partia pra cima das três mariazinhas, varinha em riste, rugindo: "Vamu, vaquinha, anda!" E as meninas corriam. E se não corressem, tomariam uma varetada de meu gigolô e cruel pai fedelho. Um belo dia, no entanto, surgiu uma gorda mãe obliterando a via férrea. E perguntou a intimidadora esfinge ao meu gigolô-pai: "Quem é vaquinha aqui, heim?" Ao que ele respondeu, deixando a varinha cair-lhe displicentemente aos pés: "Minha mãe. Minha mãe é uma grande vaquinha."
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Um grande gigolô, esse meu pai.
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