100 reais

"O que você faria com 100 reais?". Faria, do verbo eu não tenho esse dinheiro nunca na mão, que dinheiro na mão é vendaval. Com 100 reais eu poderia ir a um restaurante legal e dividir com alguém uma garrafa de vinho (é uma extravagância pra uma simples veterinária, mas foda-se: às vezes a gente extrapola mesmo); ou comprar um vestidinho, que é sempre um carinho na alma um vestidinho novo; ou assistir a um show, pegar uma peça de teatro e um filme no mesmo final de semana; ou comprar aquele livro que nunca compro porque é caro pra cacete; ou simplesmente espalhar várias notas de cinco reais sobre o chão do meu quarto e olhar praquilo como quem vê o oceano pela primeira vez. Enfim, só pra encurtar: há muitas coisas que eu poderia fazer com 100 reais, nenhuma muito nobre.

 

Aí eu vejo o esforço heróico da Helô, a Helena, pra fazer campanha sem sujar as mãos e acho aquilo duma lindeza!... Dum idealismo!... Eu hospedaria a Heloísa Helena em minha casa; eu daria 100 reais pra ela conseguir 10 milhões pra campanha eleitoral limpa, certamente uma coisa inédita, um grande feito na história política do Brasil. O problema é que eu não decidi ainda se voto nela ou no C. Buarque. Não no Chico, no outro. Buarque é um nome que pesa. E Helô... Helô é linda em sua ética, mas infelizmente eu sei que não basta ter ética: tem de ser malandro; não no sentido de roubar, matar e estuprar sem ser preso, mas no sentido de saber onde os outros malandros querem chegar e, como num jogo de xadrez, pôr o vilão em cheque. Mate, de preferência. Helô, a Helena, terá de me convencer, por meio de sua campanha limpa, que ela sabe circular entre chacais sem ser devorada. Senão meu voto pra ela terá de esperar mais 4 aninhos.

 

Quanto aos 100 reais, mesmo que eu vote noutrem, vou pensar seriamente no caso da HH. Ela merece ao menos que eu pense seriamente a respeito dessa doação.