EU AMO O MEU PAÍS.
A campanha da ONG SOS Mata Atlântica que cai como uma luva de pelica no dia em que o brasileiro aposentou o patriotismo.
Eu amo o meu país e me recuso a ter orgulho de ser brasileira somente nas Copas do Mundo. Porque eu amo meu país, vou botar a bandeira na janela e vestir o verde e o amarelo também no mês das eleições ou sempre que eu quiser me sentir bonita; e só darei meu precioso voto aos raros solitários que não desdenham do Brasil e da inteligência dos brasileiros com aquele sorriso colgate no horário eleitoral gratuito, mas pago com o meu imposto. Se eu não amasse meu país, justificaria meu não-voto numa agência de correio bem longe da minha zona eleitoral. Ou votaria em branco, ou no menos pior. Porque estou falando de amor, e o amor é um sentimento propulsor sem par, meu candidato será o melhor e não o menos pior, e eu não vou abandonar o sonho de vê-lo eleito, mesmo que anos mais tarde, ele tente me convencer de que a corrupção é um câncer incurável. Eu troco de candidato, mas não troco de sentimento: meu país merece o melhor, nunca o menos pior.
Se eu não amasse meu país, diria que nosso maior patrimônio é a bunda da mulata e que nosso povo é uma gentalha inútil, que depende de cotas pra entrar numa universidade. Mas porque eu sei que a gente tem conserto, que pra destronar o poder paralelo e retomar as rédeas da nação serão necessárias ao menos três décadas de retidão de caráter sem sair de cima, e que infelizmente esse período - se iniciado hoje! - representará ao menos duas gerações perdidas pra falta de educação de base e perspectivas de futuro, inicio hoje uma campanha pelo patriotismo cotidiano:
1) Monitorar a atividade e a assiduidade dos deputados e senadores no plenário, em sessões deliberativas cruciais para a ordem e progresso (e não para o umbigo deles);
2) Monitorar-me pra nunca mais dizer absurdos como "só podia ser Brasil", "esta merda não tem jeito" ou "a saída é o aeroporto", porque uma mentira repetida mil vezes se torna realidade;
3) Encarar o serviço público como uma forma de melhorar o mundo com as armas do governo;
4) Sair desse marasmo. Se a gente não arregaçar as manguinhas, vai ser ainda mais difícil do que parece.
Ser patriota não significa execrar argentinos; tiro meu chapéu pros argentinos que fazem passeatas, se indignam e se orgulham de ser quem são. Ser patriota é fazer exatamente o que a gente quase faz enquanto a seleção vai bem numa Copa do Mundo, só que todos os dias e em todos os aspectos, não só em relação ao futebol ou à Gisele Bündchen. Somos maiores que isso.
<< Home