Este é o meu quartinho de bagunça. Da embalagem vazia de Chokito ao último livro do Saramago que eu não terminei de ler, você encontrará aqui de tudo um pouco.

domingo, julho 02, 2006

EU AMO O MEU PAÍS.

A campanha da ONG SOS Mata Atlântica que cai como uma luva de pelica no dia em que o brasileiro aposentou o patriotismo.


Eu amo o meu país e me recuso a ter orgulho de ser brasileira somente nas Copas do Mundo. Porque eu amo meu país, vou botar a bandeira na janela e vestir o verde e o amarelo também no mês das eleições ou sempre que eu quiser me sentir bonita; e só darei meu precioso voto aos raros solitários que não desdenham do Brasil e da inteligência dos brasileiros com aquele sorriso colgate no horário eleitoral gratuito, mas pago com o meu imposto. Se eu não amasse meu país, justificaria meu não-voto numa agência de correio bem longe da minha zona eleitoral. Ou votaria em branco, ou no menos pior. Porque estou falando de amor, e o amor é um sentimento propulsor sem par, meu candidato será o melhor e não o menos pior, e eu não vou abandonar o sonho de vê-lo eleito, mesmo que anos mais tarde, ele tente me convencer de que a corrupção é um câncer incurável. Eu troco de candidato, mas não troco de sentimento: meu país merece o melhor, nunca o menos pior.

Se eu não amasse meu país, diria que nosso maior patrimônio é a bunda da mulata e que nosso povo é uma gentalha inútil, que depende de cotas pra entrar numa universidade. Mas porque eu sei que a gente tem conserto, que pra destronar o poder paralelo e retomar as rédeas da nação serão necessárias ao menos três décadas de retidão de caráter sem sair de cima, e que infelizmente esse período - se iniciado hoje! - representará ao menos duas gerações perdidas pra falta de educação de base e perspectivas de futuro, inicio hoje uma campanha pelo patriotismo cotidiano:

1) Monitorar a atividade e a assiduidade dos deputados e senadores no plenário, em sessões deliberativas cruciais para a ordem e progresso (e não para o umbigo deles);
2) Monitorar-me pra nunca mais dizer absurdos como "só podia ser Brasil", "esta merda não tem jeito" ou "a saída é o aeroporto", porque uma mentira repetida mil vezes se torna realidade;
3) Encarar o serviço público como uma forma de melhorar o mundo com as armas do governo;
4) Sair desse marasmo. Se a gente não arregaçar as manguinhas, vai ser ainda mais difícil do que parece.

Ser patriota não significa execrar argentinos; tiro meu chapéu pros argentinos que fazem passeatas, se indignam e se orgulham de ser quem são. Ser patriota é fazer exatamente o que a gente quase faz enquanto a seleção vai bem numa Copa do Mundo, só que todos os dias e em todos os aspectos, não só em relação ao futebol ou à Gisele Bündchen. Somos maiores que isso.