Este é o meu quartinho de bagunça. Da embalagem vazia de Chokito ao último livro do Saramago que eu não terminei de ler, você encontrará aqui de tudo um pouco.

quinta-feira, julho 27, 2006

Desafeto


Afetuosa eu sou muito, talvez até estranhamente demais. Pensando bem, talvez tenha sido por isso que um amigo me apelidou de Imperatriz do Sexo quando eu tinha 17 anos -- e só conhecia, no sentido bíblico, um único homem. E nada sobre sexo. Mas minha capacidade afetiva e minha saúde mental perfeita-- eu não nego amor nunca! -- não vêm ao caso. Estou em plena primavera do desafeto. Eis que aconteceu o inimaginável: arrumei uma arquiinimiga, do tipo que tem uma verruga escrota na ponta do nariz, fala rosnando entre os dentes, tranca a enteada no porão e manda o caçador tirar-lhe o coração durante o passeio na floresta. Juro por tudo que me é mais sagrado: a mocréia é tão sórdida que, se fosse há 30 anos, eu teria me borrado toda!

Hoje, que eu sou uma mulher adulta, penso na ameaça da bruxa à luz de duas cabeças: a da filha, que sou, e a da mãe, que serei um dia. A filha sente vontade de chorar pelas injustiças do mundo, por que a bruxa não me deixa ir ao baile ver o príncipe?, ó céus, mundo cruel! A mãe olha pra filha toda encolhidinha no canto, coça o saco, cospe no chão e manda: você prefere que ela morra implorando perdão de joelhos, sentada ou deitada? Maçarico, alicate ou serra elétrica? Tenho um pouco de medo dessa serial mother que há em mim, mas acho que ela me dá moral pra enfrentar a bruxa sem pedir ajuda a uma fada madrinha. Só acho meio foda que, pra eu me defender sozinha, eu precise ser mãe de mim mesma. Quem foi que falou pra minha que ela estava dispensada do cargo para ser avó full time? Protesto, meritíssimo! Eu vou acertar contas com minha desafeta, mas quando eu voltar eu quero a minha mãe, pô!
A bruxa que se cuide. Embora eu acredite em justiça divina e meu santo seja forte, sou fã ardorosa do aqui-se-faz-aqui-se-paga.