Este é o meu quartinho de bagunça. Da embalagem vazia de Chokito ao último livro do Saramago que eu não terminei de ler, você encontrará aqui de tudo um pouco.

terça-feira, julho 25, 2006

OM

Fiz faculdade numa cidade a uma hora do Rio, e eu lá morava de segunda a sexta, às vezes de segunda à segunda, dependendo das provas e festas. Talvez porque eu achasse o campus universitário Rural muito quente, eu levei para minha república seropédico baixadiana fluminense todas as minhas roupas super ventiladas. Eu dava preferência às furadas e rotas que, de forma alguma, eu teria ocasião para usar na fresquíssima cidade do Rio de Janeiro. Foi assim, desconfio, que eu ganhei esse estigma de bicho grilo na faculdade. Foi rápido: no primeiro período o Mion começou a me chamar de Flora Própolis. Então, da noite pro dia, eu passei a ser a primeira a saber de tudo que fosse mais ou menos esotérico, orgânico ou macrobiótico. Namorei um agrônomo, melhor amigo de uma veterinária homeopata, que me ensinou as vantagens da agricultura orgânica e da culinária macrô. Aprendi a reverenciar o sol e a agradecer à mãe terra pelo alimento orgânico que saía de seu ventre. Fiz capoeira com a galera, estudei homeopatia e acupuntura, salvei a vida de dezenas de ratos no biotério, mas nada me fazia sentir tão bicho grilo quanto os mantras que eu entoava nas aulas de Yoga que eu fazia às terças e quintas à noite.

Foi o Alex quem me contou dessa professora de Yoga no km 49. Ângela, se não me engano. Ela tinha outro codinome impronunciável em sânscrito, daí eu não ter certeza, mas fiquemos com Ângela, que é um nome elevado por definição. O Alex me disse, mesmo imaginando minha vasta experiência com eventos e substâncias extra-sensoriais, quase tudo intriga da oposição, diga-se, que eu nunca sentiria nada igual àquilo. Sentir, ele disse. Então fui lá pra ver qual era. A imensa sala era toda revestida por madeira, parecia uma caixa sem janelas, mas não oprimia porque tinha ventiladores enormes nas paredes e uma discreta penumbra azul. Ângela falou comigo em volume e tom de prece de igreja, coisa que fez meu coração desacelerar instantaneamente, explicou-me que eu faria a prática de olhos fechados o tempo todo e, se eu precisasse de correções, ela iria ao meu lugar me reposicionar. Eu não acreditava que ela pudesse fazer alguma coisa por mim em meio a 30 outras pessoas e comecei a "prática" (yogins não têm aula, vivenciam práticas) meio cética, mas ela me manipulou com mãos etéreas de fada-mãe várias vezes. E, a cada toque, parecia que meu corpo adquiria uma nova consciência e tentava levitar. Com Ângela, mentalizei a luz dourada e fiquei recheada de uma felicidade extra-sensorial absurda, mas tão absurda que eu chorei o tempo inteiro da metade pro fim da prática. No fim, eu acabei dando uma abridinha discreta do olho esquerdo pra ver como os lábios das pessoas se moviam durante a entoação dos mantras. Levei 3 meses pra ter coragem de entoar algo diferente do OM, mas quando eu finalmente passei a participar dos mantras, eu virei outra pessoa.

Hoje, que eu preciso mais uma vez de energias pra enfrentar a jararaca peçonhenta do meu trabalho, coloquei pra tocar o CD de mantras que a Marina me deu de aniversário. Estou tão radiante que parece que cheirei um troço mutcho lôco, estou fora do meu corpo. Tanto que estou doida pra ver a megera e desejar-lhe OM, do fundo do meu coração. "OM, sua vaca escrota." Não é a cara dos ensinamentos da Ângela, mas credito a ela a parte do OM.

À noite, eu vou postar uns mantrinhas aqui pra vocês sentirem esse barato total. OM a tutti, haribô e carpe diem.