Porque a mente engorda
Porque a vida não foi feita pra se passar a alface e água.
Foi castigo, eu sei. Eu acredito em justiça divina, e sei que "cresci" três manequins em três anos porque passei quase toda a minha vida acreditando pia e cretinamente que só não é magro quem quer (ser uma baleia). Não quero que ninguém tenha raiva das minhas convicções passadas sobre magreza e gordura, mas entendam que com o meu histórico -- não gostar de doce até os 30, não ter o hábito familiar da sobremesa e ter sempre comido bem devagarzinho -- era fácil ser magro. Difícil era entender porque algumas pessoas estavam sempre lutando contra a balança.
Pois cá estou eu onde achei que jamais estaria: no time dos gordinhos mentais. Sei que não sou gorda (ainda estou no patamar da falsa magra), mas tenho total convicção de que chegarei à super obesidade mórbida se continuar pensando com esta cabecinha de gorda. Desenvolvi um pensar obeso ao longo dos anos, e não foi dum dia pro outro. Primeiro eu tive meu primeiro emprego e, com ele, meu primeiro vale refeição. Eu, que tinha um nojo irracional de comida de rua, me resignei àquela imundice e aprendi a comer no quilo na hora do almoço. No quilo, sempre tem um vigarista dum gordinho que almoça bebendo coca-cola NORMAL e pede sobremesa no grupo que almoça contigo; e um dia, você pede uma sobremesa também, só pra experimentar; depois disso, o cafezinho pós-prandial perde todo o sentido se não vier com uma mousse de chocolate. Depois, todos os quatro ou cinco cafezinhos do trabalho perdem o sentido se não vierem acompanhados de um chocolate prêt-à-manger, e quando você menos espera, está estocando Chokito na mesinha de cabeceira e não consegue mais ir pro trabalho sem o apoio emocional do bombom de cupuaçu.
Houve um momento, antes d'eu engordar meu primeiro quilo, em que eu senti a necessidade de um grupo de apoio. Procurei os Vigilantes do Peso, que me correram dali antes que eu fizesse os gordos de fato cortarem os pulsos. Eu insisti, disse "gente, eu vou ficar gorda um dia, preciso reprogramar meu cérebro pra voltar a pensar magro antes que isso aconteça", mas as ex-gordinhas não tiveram compaixão de mim. Uma me mandou buscar apoio psicoterápico, e a essa eu precisei dizer uma coisa muito rude, que não se diz pra mulher alguma, sobretudo se você é veterinária e ela, ex-obesa: "ah, vá se catar, sua vaca-gorda-sem-alma-miserável!"
O cérebro gordo pode estar embutido num corpo magro, e vice-versa. Conheço pessoas gordas com cérebro magro, que Deus não é justo sempre, e magras com cérebro gordo, o que me faz crer que o diabo deve ser mesmo um bom negociante de almas. Um cérebro obeso, como o meu, funciona assim: estamos em setembro, então tenho 4 meses para emagrecer até o Natal, quando poderei comer MUUUUUUUITA RABANADA, aê! Ou então, como ocorreu esta semana: Já que eu vou começar uma dieta amanhã, vou dar uma enfiada de pé na jaca geral, e comi duas empadinhas, um cachorro quente do Bob's com milk-shake de (óbvio!) ovomaltine, um Chokito e uma garrafinha de Grapete NORMAL! E no dia seguinte, tive que ouvir do meu novo nutricionista o seguinte: "não seja maluca com você mesma". É que eu tinha acabado de perguntar se, quando ele dizia que eu podia comer qualquer quantidade de fruta numa determinada refeição, ele queria dizer que eu poderia comer uma melancia inteira duma só vez, por exemplo. E eu só perguntei isso porque, enquanto ele descrevia a dieta, foi me dando uma fome, mas uma fome tão louca, que eu só pensava em emagrecer logo pra poder comer tudo o que que quisesse de novo.
Será que o Pitanguy lipoaspira cérebros?
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