Este é o meu quartinho de bagunça. Da embalagem vazia de Chokito ao último livro do Saramago que eu não terminei de ler, você encontrará aqui de tudo um pouco.

terça-feira, dezembro 12, 2006

Innamorata

Eu e meu namorado canino Luca, pra provar que eu não tenho preconceito contra loiros, ruivos e russos em geral.

Alvorada hoje foi às 5h40. Acordei com a bela canção de uma vaca mugindo nos meus ouvidos (tenho um despertador de vaca pra me lembrar que Deus dá uma casa de campo mobiliada rusticamente, com carneiros e vacas pastando solenes no jardim, a quem cedo madruga). Ainda estava escuro e eu, naquele clima bucólico de vaca a pilha, pensei lá com meus botões: que dia maravilhoso pra sair de uma fossa... E saí.

Tal qual a mulher elástica, pulei do pijama pruma roupa de ginástica, da cama pra bicicleta, e fui fazer uma aula de spinning às 7 da manhã. Eu podia ter corrido, musculado ou até alongado, mas fui pro spinning, que é o tipo de exercício que tanto faz o professor, desde que o cara tenha bom gosto musical. E essa professora das sete da manhã tem, gente! Saí da academia extasiada, depois de pedalar Jackson Five, Tim Maia e U2 que nem uma louca. Me deu uma vontade incontrolável de ligar pra todos os meus amigos e dizer - ou melhor, gritar - que eu sou louca por eles, mas a elegância me compeliu a esperar dar 9 da manhã pra ligar pra primeira vítima do meu bom humor matinal: minha chefe. Disse bom dia em cinco línguas, falei que nem uma matraca que a gente ia arrebentar a boca do balão, que hoje a festa é sua, a festa é nossa, é de quem quiser e de quem vier. Ela não conseguiu entender tudo porque eu falei muito rápido, mas o importante é que eu pus pra fora, e tem horas que não importa o quê, mas a gente tem que botar pra fora.

Houve até um momento em que eu suspeitei -- assim, de leve -- que eu estava em hipomania, pronta pra pirar, subir no queijo e tirar a roupa, mas depois de muito matutar e concluir, mui acertadamente, que hipomania de cu é rola, que eu tenho direito de me sentir bem depois de me sentir mal ou quando bem entender, percebi que tô é apaixonada.

Apaixonada pelos meus amigos. Os mesmos amigos que, na semana mais difícil do meu ano, naquela em que eu tive de ir à minha joelhaçoterapeuta duas vezes consecutivas pra verificar se meu caso não exigia mesmo lítio, eletrochoque ou internação no Pinel, estiveram ao meu lado e -- cada qual ao seu jeito -- me convenceram de que a vida, essa montanha russa espacial que dura muito menos que nossa espera na fila da Disney, é bonita, é bonita e é bonita.

Apaixonada pelo meu irmão e sobrinho, que me fizeram chorar de emoção; e pelos meus pais, que me deixaram ficar deprimida só por dois dias, mas depois e me arrancaram da cama e me acordaram dez vezes por dia, mesmo quando eu jurava -- e eles não acreditavam -- que não tinha a menor condição de levantar porque estava nas últimas.

Apaixonada pelos meus peludos, que têm orelhas enormes pra me ouvir melhor (e prestam muita atenção em tudo o que eu digo); e apaixonada pelo Luca, o Golden da Dani e da Patrícia, que vai passar as próximas férias comigo porque minha cama tem o tamanho exato pra nós dois e porque eu não tenho a menor vergonha de dizer que namoro um cachorro.

E por último, mas não por ser menos importante, gostaria de agradecer a aparição dessa hilária figura, rápida no gatilho e nos versos, que vem preenchendo este quartinho com pílulas anti-tristeza. A você, Poetanônimo, só não franqueio meu coração porque só namoro um cara de cada vez. E agora é vez do Luca, que não é poeta, mas tem uma língua que eu vou te contar! Além disso, eu sei exatamente quem ele é, onde mora e o que espera de mim: cafuné e aquela palavra com a letra P. Na veia!