Bicho cabeludo, bicho de sete cabeças
No dia mais lacrimoso deste já lacrimo-fluvial 2007, assisti "Babel" na luxuosa companhia do Tom Taborda. Apesar da fossa, da TPM, do colo Tabordiano e da minha normohidratação (que quando eu choro muito, tenho de tomar 5 litros d'água por dia, senão desmaio, hipotensa), nem chorei em "Babel". Uma mulher ao meu lado estava tendo uma convulsão de soluços e lágrimas ao acender das luzes, e confesso que senti uma pontinha de inveja daquele choro, mas -- embora trate-se de um filme denso sobre o sofrimento familiar nas mais diversas culturas --, chamou-me mais a atenção o emaranhamento das tramas. Aquilo me distraiu tanto que, pra minha grata surpresa, nem mesmo na cena em que o Brad Pitt chora -- e olha que eu sou daquelas que não pode ver um homem chorar; o cretino pode até mesmo estar chorando por não querer gastar uma bala de seu revólver pra me matar, mas eu vou chorar junto, não importa o motivo --, consegui verter lágrima.
Não vou dizer que não sofri, porque sofri pra valer em "Babel". E o que mais me doeu foi o vazio da adolescente japonesa que tentava ocupar seu oco com a oferta ostensiva de seu sexo, na cega esperança de que alguma convexidade peniana lhe preenchesse a concavidade da alma. Numa das cenas, ela, uma figura andrógina extremamente kinky, propositalmente caracterizada pra brincar com o imaginário salutarmente pervertido do espectador, usando uma mini-saia colegial de meio palmo, tira a calcinha e expõe sua genitália cabeludérrima pra um grupo de garotos babaquinhas num point infanto-juvenil. A cena, que faz muita gente rir, foi a mais próxima de me fazer chorar. Deixo a explicação disso a encargo de Freud. Estou sem saco pra desenvolver, até porque o bicho cabeludo era só um gancho pra um outro tópico, algo off: não suporto pentelhos fora da linha do biquini. Vou passar o cerol-definitivo a laser em todos. Chega de cêra na minha virilha: inimigos da linha do biquini, pra mim, agora, só no cerol. Deixem estar, pentelhos, que assim que este verão passar vocês vão rodar. Até lá, mais por motivos ideológicos que estéticos, vou deixar o bicho cabeludo. Quero curtir os últimos dias dos meus pentelhos idem (ou dos meus idem pentelhos). A japinha do filme não mereceu minhas lágrimas, mas ao menos esta homenagem minimalista eu devo a ela.
E por falar em bicho cabeludo, me veio o gancho do bicho de sete cabeças: por que o guardião do inferno é um cão de três cabeças? Por que não uma xereca cabeluda? A julgar pela disparidade entre o comportamento sexual das mulheres, que geralmente relutam em dar na primeira vez, e
o dos homens, que geralmente insistem em trepar na primeira vez, tenho pra mim que a vagina, enquanto símbolo de poder, mistério, pecado e obsessão, é o bicho de sete cabeças mais cabeludo que existe. E o pobre do bichinho nem dente tem, coitado! Ó, infâmia!
<< Home