Este é o meu quartinho de bagunça. Da embalagem vazia de Chokito ao último livro do Saramago que eu não terminei de ler, você encontrará aqui de tudo um pouco.

quarta-feira, janeiro 24, 2007

Da séria série "Campanhas por um Mundo Melhor": Preserve a vida de um motoqueiro ou ciclista, amigo motorista.

Escrevo este post amoroso-apelativo com a vista embargada por uma cachoeira de lágrimas; e sempre que me lembro de cachoeira, me lembro de Oxum e do Véu de Noiva, e a palavra "noiva" faz minha TPM gritar, e o sertão vira mar só do meu pensamento derrapar um segundinho que seja pra fora da linha original de racicíonio.

Vou retomar daqui: tenho toda a legitimidade do mundo pra chorar. Sou canceriana com lua em câncer, porra! Estou em TPM. Meu perfume preferido está em falta. Sou mulherzinha, e minhas unhas estão um lixo. Faltam 3 horas pr'eu cortar o cabelo (e talvez pintar), mas essa espera insuportável pro paliativo mais eficaz contra meus dissabores me faz querer cortar os pulsos muito além das madeixas. Faltam 6 anos pra eu encontrar o pai dos meus filhos (e meu relógio biológico berra!).

O fim do mundo me espreita e, como se nada disso bastasse, hoje eu cheguei no canil e não encontrei o Bob. O meu cãovelado Bob, o pretinho do G, o vira-lata mais cheio de molejo de toda a Mangueira. Rodei os outros 17 canis gritando por ele. Urrando por ele. Cheguei aos prantos à sala dos veterinários e perguntei, tentando não entrecortar as palavras com soluços que insistiam em me pular pela garganta, onde-caralhos estava o meu Bob. O pretinho do G. "Pretinho do G?", tiveram o desplante de me perguntar, como se houvesse ou jamais tivesse havido outro pretinho no G que não meu primeiro e único Bob. Tive de me apoiar nas paredes pra buscar, mãos trêmulas, a foto dele que eu tinha guardada no celular. A estagiária olhou a foto enquanto minhas lágrimas rolavam aos litros, feito cena de naufrágio em cinema-catástrofe. "Ah, esse... Foi adotado ontem." A voz me fugiu, o chão me sumiu, e tudo que eu conseguia fazer era um gesto de "me dê", apontando pras fichas de adoção. Assustada com minha convulsão lacrimosa, a estagiária me estendeu, sem maiores delongas, a ficha com os dados do adotante do Bob: um homem de Seropédica, que mora em casa e também levou, no mesmo dia, uma outra cadelinha. Sem conseguir dizer uma palavra, saio desolada e ligo imediatamente pra minha chefe: "Le...va...ram o... meu (soluço gutural) Bob...". E ela, com voz de oba-oba: "Ele foi adotado?!?". Emito um misto de soluço e sim, e ainda recebo um mega esporrão dela, que diz que eu devia estar feliz porque ele só ganhava carinhos 5 vezes por semana de mim, e agora vai ganhar cinco carinhos por dia, todos os dias da semana, por alguém que gosta muito de cachorro.

No vácuo do Bob, percebo que fiz a maior merda do mundo por ter terminado com o Luca. Sua dona, minha intrépida amiga motoqueira Dani, está se recuperando de um acidente de lambreta ocorrido no sábado passado. Traumatismo craniano, uns arranhões, nenhum osso quebrado, muita sorte e alta dentro de dois dias. Ofereci-me pra ficar com o Luca enquanto ela está no hospital, cheia de soros e enfermeiras, mas a família já havia providenciado a estadia do meu ex num resort cheio de regalias e com vista pro mar. Insisti na oferta, mas percebi uma nota de mágoa na voz de minha ex-sogra-canina escoriada, ainda ressentida com o desmanche inusitado de meu namoro com seu aristocrático Golden, trocado sumariamente pelo plebeu Bob.

E agora, estou sem nenhum peludo pra chamar de meu. (suspiro)

Mas voltando ao tema deste post lacrimo-tendencioso, e porque dois amigos queridos se acidentaram de moto nos últimos três meses, se fuderam legal mas tiraram a sorte grande de não morrer, que é a estatística trágica mais comum nos acidentes de moto, eu gostaria de pedir a você, amigo motorista, sobretudo o(a) amigo(a) motorista que brochou na véspera, brigou com o marido, tomou um toco dum babaquara sem caráter que só queria te comer (mas você só deu porque quis), tomou uma lavada do patrão medíocre, uma fechada do taxista abusado, enfim, a todos vocês, seres potencialmente assassinos com porte de arma emitido pelo DETRAN, que tenham muito, mas muito cuidado com os motoqueiros e ciclistas. Eles podem até ser enervantes às vezes, buzinar no seu ouvido durante o engarrafamento enquanto passam serelepes a 60km por hora , a 2 mm de seu retrovisor, quando você está estacionado na Voluntários e sem ar condicionado, com os vidros fechados e medo de arrastão, mas por trás daquele capacete (ou não!), acreditem, também bate um coração. Um coração libertário, que gosta de vento na cara; que tem mãe, que por sua vez tem um coração que quase pára de bater quando vê a filha inconsciente naquele freak-show que é a emergência do Miguel Couto. Por trás daquela bicicleta motorizada (ou não), feia ou bonitinha, importada ou favelada, há uma criaturinha que gosta de esportes, que gosta de bichos e tem uma turma de amigos de infância que se desesperam quando ouvem a notícia do acidente. E que vão visitá-la no hospital fazendo piadas e falando sem parar, mas saem aos prantos porque percebem o quão frágil a vida é. E o quanto está em nossas mãos preservar não só a nossa, como a do próximo. Porque o próximo, nunca se sabe, pode ser você.

Respeito é bom, respeito é humano e sem respeito não há esperança de dias melhores.

Dani, querida: recupere-se logo! E pare de assustar suas mães.