Este é o meu quartinho de bagunça. Da embalagem vazia de Chokito ao último livro do Saramago que eu não terminei de ler, você encontrará aqui de tudo um pouco.

domingo, janeiro 21, 2007

Sweet Charity: o clown que não nega amor nunca.


A dulcíssima Charity Love Valentine de Cláudia Raia e Betty Boop: qualquer semelhança (entre nós) não é mera coincidência.


Quando assisti Noites de Cabíria, do Fellini, não me identifiquei nem um pouco com a prostituta generosa e ingênua que dá tudo de si pro seu homem; e o que não dá, lhe é violentamente tomado. Não me identifiquei, porque a protagonista desse rodrigueano Fellini é um clown perfeito, com realejo, maquiagem de palhaço e tudo. Nunca, antes de assistir Sweet Charity, presente lindo do Joel, havia me sentido um clown. Embora nunca tenha me considerado uma pessoa séria o bastante pra ter contador, planejar a compra da casa própria e outras coisas que pessoas sérias fazem, também nunca me senti uma palhaça.

Mas americano é foda. Pega uma história italiana cheia de entrelinhas e a decodifica pra platéia conseguir entender tudo direitinho. E, dessa vez, graças a uma notícia triste que recebi minutos antes do show (e que removeu meu filtro cor-de-rosa pra percepção da vida) e ao didatismo irritante das produções americanas, eu entendi: sou uma espécie inequívoca de clown amoroso. Está escrito na minha testa: quero dar todo meu ouro pra você, bandido. Só os bandidos conseguem ler, claro. E eu, como todo clown, não tenho a menor noção de que pregaram um cartaz na minha testa e sigo, ignorando a clara transmissão da mensagem, em busca da minha alma gêmea. Só que, se é que existe uma alma gêmea para mim, ela nunca irá se identificar com a designação do cartaz: "bandido". Da mesma forma que, antes de Sweet Charity -- que, apesar de ser um musical divertido, um Fosse circense super bem produzido, me fez chorar por dentro do início ao fim --, eu não me sabia clown.

Agora eu sei. E, olha: sei que é uma merda isso que vou dizer, mas tô morta de pena de mim mesma. Não sei do que mais preciso agora: se de uma lobotomia, de um corte de cabelo ou de um veneno infalível pra matar somente meu coração. Não meu descompassado músculo estriado cardíaco, mas essa minha fonte inesgotável de amor. Que -- apesar de ouro -- eu não nego nunca. Mas só pra pessoa errada. Ou pra pessoa certa, no momento mais errado.

A pior coisa de ser clown é a inconveniência.