A posse do Povo Brasileiro
Como vocês sabem, meu pai nunca lê meu blog, então eu às vezes falo do blog nas conversas à mesa. Quando a gente mora junto com outra pessoa há muito tempo, não raro, falta assunto.
Assim, hoje ele ficou sabendo que eu já coloquei fotos do Povo e da Radija no blog. Ele queria que eu tirasse as fotos do Povo imediatamente, porque teme que o antigo proprietário de nosso galgo iraquiano o reconheça e reclame sua posse e guarda. Na verdade, o antigo proprietário do Povo Brasileiro, como é típico, era a rua da amargura. Eu o resgatei da sarjeta, sarna, cinomose e bicheira numa manhã de primavera no Fundão, e o cara veio aqui pra casa só pra se recuperar. No entanto, como é típico do Povo Brasileiro, ele gostou da hospitalidade, do nosso queijo minas (que ele roubou de cima da mesa na primeira semana), e foi ficando. Uma vidinha mais ou menos, adestrou a gente rapidamente a passear com ele nove vezes por dia, depois ganhou um sítio com caseiro, depois um muro com janelas de altura própria à contemplação canina, depois uma prima pra lhe fazer companhia, e lá se vão nove anos.
O que é o grande medo do meu pai -- parar em um tribunal pra lutar pela posse de um cachorro inconfundível (realmente, ele é o único galgo iraquiano no mundo!) -- é o meu maior sonho. Eu adoraria viver essa novela. Fico imaginando meu primeiro diálogo com o malfeitor querelante:
- Você quer esse cachorro?
- Sim.
- Muito, muito?
- Muito.
- Não serve outro? Eu tenho cerca de 130 cães e gatos maravilhosos na Mangueira, aptos à adoção.
- Mas eu quero este, que é meu.
- Por qué no te callas?
***
Acho que só nos contos de fada, daqueles com monarcas que defendem seu reino heroicamente, alguém lutaria pelo Povo. Ainda mais sendo o pobre brasileiro.
Assim, hoje ele ficou sabendo que eu já coloquei fotos do Povo e da Radija no blog. Ele queria que eu tirasse as fotos do Povo imediatamente, porque teme que o antigo proprietário de nosso galgo iraquiano o reconheça e reclame sua posse e guarda. Na verdade, o antigo proprietário do Povo Brasileiro, como é típico, era a rua da amargura. Eu o resgatei da sarjeta, sarna, cinomose e bicheira numa manhã de primavera no Fundão, e o cara veio aqui pra casa só pra se recuperar. No entanto, como é típico do Povo Brasileiro, ele gostou da hospitalidade, do nosso queijo minas (que ele roubou de cima da mesa na primeira semana), e foi ficando. Uma vidinha mais ou menos, adestrou a gente rapidamente a passear com ele nove vezes por dia, depois ganhou um sítio com caseiro, depois um muro com janelas de altura própria à contemplação canina, depois uma prima pra lhe fazer companhia, e lá se vão nove anos.
O que é o grande medo do meu pai -- parar em um tribunal pra lutar pela posse de um cachorro inconfundível (realmente, ele é o único galgo iraquiano no mundo!) -- é o meu maior sonho. Eu adoraria viver essa novela. Fico imaginando meu primeiro diálogo com o malfeitor querelante:
- Você quer esse cachorro?
- Sim.
- Muito, muito?
- Muito.
- Não serve outro? Eu tenho cerca de 130 cães e gatos maravilhosos na Mangueira, aptos à adoção.
- Mas eu quero este, que é meu.
- Por qué no te callas?
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Acho que só nos contos de fada, daqueles com monarcas que defendem seu reino heroicamente, alguém lutaria pelo Povo. Ainda mais sendo o pobre brasileiro.
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