Este é o meu quartinho de bagunça. Da embalagem vazia de Chokito ao último livro do Saramago que eu não terminei de ler, você encontrará aqui de tudo um pouco.

quinta-feira, janeiro 08, 2009

O Lobo Maurmiteiro

Numa certa manhã chuvosa de janeiro, estava Chapeuzinho Vermelho esperando o 284 na Central do Brasil, quando Seu Lobo Mau se aproxima e sussura-lhe ao pé da orelha:
- Shshshshsh.
- Heim?, quis saber Chapeuzinho. Mas no que ela disse heim?, um balde de adrenalina derrama-se em sua corrente sanguínea, acordando Tico, que, assustado, cutuca Teco, que por sua vez acha ter entendido algo como "...tocar a real... shshsh... 'ssa bolsa aê".

Corta imediatamente pra Chapeuzinho, que não tem tempo de esperar seus neurônios letárgicos chegarem a uma conclusão. Quando a gente está na dúvida se é assalto ou não, a melhor coisa é agir como se fosse assalto e pronto. E quem disse que nessa hora a gente consegue entregar tudo? A gente tem o instinto de recusar, então Chapeuzinho diz:
- Mas, moço... eu não tenho é nada. Nesta bolsa aqui, eu só tenho uma marmitinha...

Então o Lobo Mau infla o peito, arregala seus olhos tão grandes, levanta a camisa, exibindo uma peixeira de aproximadamente 80 cm, do tipo usado pra cortar bucho de tubarão-baleia, e ruge:
- NÃO DISCUTE COMIGO, MENINA, SENÃO VOU TE FURAR!

O cavalheiro ao lado, que também estava no ponto aguardando a chegada de seu corcel, resolve tomar uma atitude e brada que "ninguém vai levar a bolsa da menina, não", mas o Lobo Mau arranca, levando consigo a bolsa e desviando-se de uma pedrada, deixando Chapeuzinho aparvalhada e sem almoço, numa madrugada cinza, feia e chuvosa, em pleno deserto existencial da Central do Brasil.

O deserto então abre sua boca imensa pra Chapeuzinho entrar e ela entra acanhada, senta-se na beirinha da calçada e fica lá desamparada, molhada de chuva e tentando entender, entre tantas coisas:
1. Por que isso?
2. Por que eu?
3. Por que hoje?
4. Por que minha marmita, e não minha carteira cheia de dólares, euros e bilhetes premiados da mega sena?
E por último, mas justamente por ser o motivo principal das lágrimas que agora jorravam como cachoeira do rosto de Chapeuzinho, transformando a Central e todo o centro do Rio de Janeiro num caudaloso leito de rio:
5. Por que essa faca tão grande, Seu Lobo Mau?!?

Tudo bem que Chapeuzinho exagera, mas uma faca de dois metros e meio só pra levar um prato de comida é demais! É muita faca pra pouca Chapeuzinho. É muita violência por nada. Como diria o Gil, é désnécessário, Preta. Lobo Mau perdeu a noção completamente.

Aí, quando Chapeuzinho chega ao trabalho nadando em lágrimas e contando como acabara de sobreviver a um atentado terrorista à propriedade privada, não é sua trágica história que assombra os colegas, e sim o fato de o Lobo Mau ter lhe tomado somente a marmita.
- Mas era uma marmita muito limpinha e muito gostosa. E agora o Lobo Mau está lá, de pança cheia, e eu aqui, sem almoço, sem lanche e sem colação!

A sorte de Chapeuzinho é que sua colega-madrinha, Rita, come pouquinho e se ofereceu pra dividir seu almoço com a vítima do Lobo Maurmiteiro.

No dia seguinte, o episódio estava esquecido e todos continuaram felizes para sempre.

(Mas que era desnecessária aquela peixeira toda, ah, isso era!)