Este é o meu quartinho de bagunça. Da embalagem vazia de Chokito ao último livro do Saramago que eu não terminei de ler, você encontrará aqui de tudo um pouco.

terça-feira, março 03, 2009

Poema para a Moça Que Escreve Sem Parar

Houve um tempo em que eu escrevia sem parar. Se eu não estivesse na frente do computador, eu escreveria no guardanapo do restaurante, no papel toalha do banheiro, no moleskine no ônibus e, às vezes, até no verso de notas fiscais e cartões de visita que faziam figuração em minha carteira. Foi num dia desses, e isso deve ter uns dois anos, que um rapaz me entregou o poema que ora transcrevo, escrito com letra bonita, numa folha pautada de caderno espiral. Estávamos num frescão que ia do Centro à Gávea. Recebi um cutucão do banco de trás e, na sequência, um papel dobradinho. Li, espiei por entre os bancos e acenei-sorri agradecendo. Mas nós nunca trocamos um olá.

Poema para a moça que escreve sem parar...
(do autor anônimo do frescão Centro-Gávea)

Entre cadeiras e cadeias
Um poeta preso
Trêmulo
Se expande
São versos o que ela escreve?
São correntes que me contêm?
Na ponta da caneta
O poema borra
Insiste
Distorce
A escrita se desfaz
Na teia dos segredos
Dos anônimos
Em cada canto do ser
Pulsa o que detém
E o medo do não-ser.