Este é o meu quartinho de bagunça. Da embalagem vazia de Chokito ao último livro do Saramago que eu não terminei de ler, você encontrará aqui de tudo um pouco.

terça-feira, agosto 25, 2009

Profissão: dipromata

Era o casamento do irmão de uma amiga de escola, então seria apenas natural que eu encontrasse por lá toda aquela galera que eu não via desde os 17 anos. Entre essa gente, encontrei uma das primas do noivo: estava 30 kg mais gorda, mas tão sorridente que eu me animei a prosear com ela - coisa que eu passei a infância inteira evitando porque a bichinha era insuportável no tempo das polainas. Como toda brasileira boa de papo, ela iniciou a conversa da seguinte forma:
- E aí, tá fazendo o quê da vida?

Um parêntese aqui pra reclamar dessa mania. Por que essa pergunta - o que você faz da vida? - sempre encontra lugar nas conversas ditas amistosas? Isto lá é pergunta que se faça pra uma pessoa que você não vê há anos ou sequer conhece? Há um sem número de coisas triviais que se pode perguntar pra uma pessoa desconhecida antes desta pergunta tão íntima - vide o capítulo 1 do básico 1 de qualquer cursinho de inglês, francês ou italiano -, como: qual o seu nome?, de onde você é?, você gosta do Rio de Janeiro?, você tem animais de estimação?, e como se chamam?, está gostando da festa?, entendeu a charge do Chico de hoje?, e por aí vai. Mas não! A gente quer-porque-quer saber o que o ser humano faz da vida, como se todo mundo soubesse o que faz da vida. Tenho pra mim que menos de um quinto das pessoas tem a mais vaga noção do que faz da vida, mas a gente continua perguntando, não sei bem porquê. Fecha parêntese.

Sentindo que o papo não ia fluir, o que era apenas lógico, porque quilos e anos nunca foram capazes de agregar nada de interessante a pessoas precocemente chatas, eu laconizei:
- Veterinária.
- Hum.
Neste ponto, eu olhei pra cara da minha interlocutora pra tentar entender o que diabos queria dizer "hum". E ela, notando meu olhar de interrogação e investida de uma súbita necessidade de se explicar -- afinal, tinha feito diplomacia no Instituto Rio Branco exatamente pra isso, pra ser explicadinha, diplomática e não deixar nada nas entrelinhas --, acrescentou:
- Mas se você gosta disso, né? É isso que importa.

Eu me escusei de tão agradável conversa dizendo que ia sair pra dar um cagadão mas já voltava. Não voltei, claro. Até porque ficou um climão entre a gente. Ela é desse tipo insuportável de pessoa que se sente pessoalmente ofendida com palavras de baixo calão. Eu sou do tipo que se ofende com pessoas de baixo calão. Eu até compreendo os dois tipos, mas prefiro o meu, obviamente, assim como prefiro meu time a todos os outros - mas se os outros não existissem, com quem meu time iria jogar, afinal? Tolerância é isso aí. E olha que eu sei disso sem nem ter estudado no Rio Branco!

E já que eu estou super tolerante hoje, quero deixar registrado, da forma mais fina possível, que diplomacia no orifício anal dos outros é lemonade. Que história é essa de o Brasil liberar 332 milhões de dólares pra construir uma rodovia boliviana? Além de escoar bens de exportação do nosso vizinho muy amigo, a Bolívia do Evo Morales de Cu es Hola, o governo brasileiro deu um jeitinho de compensar perdas que a Bolívia teve recentemente, quando expulsou o embaixador estadunidense de seu país. Os hermanos fazem o que querem e quem paga o pato é a gente? Ah, haja nova CPMF pra sustentar as cagadas do Itamaraty!