Este é o meu quartinho de bagunça. Da embalagem vazia de Chokito ao último livro do Saramago que eu não terminei de ler, você encontrará aqui de tudo um pouco.

domingo, janeiro 29, 2006

Os nossos filhos.


Hoje eu fui a um churrasco inusitado em Campo Grande e encontrei um colega de faculdade que não via há muito tempo, o Cláudio. Ele estava lá com suas três mulheres: esposa, filha de 5 e bebê de 3 meses. Não sei o que me deu, mas ver aquele bebezinho me fez perder a voz. Tudo bem que eu já vinha rouca há uns dias, mas eu sempre me emociono profundamente com filhotes.

Na faculdade, quando vi pela primeira vez uma égua parindo no hospital veterinário, eu passei dias chorando só de lembrar do olhar arregalado da égua, do potrinho ficando de pé e da mãe, já serena, examinando-o. Eu estava justamente comendo carne quando lembrei dessa cena, e me ocorreu que a carne que eu estava comendo era do filhote (ainda que adulto) abatido de uma mãe que um dia arregalou os olhos ao parir, mas que logo ficou tranqüila ao ver-se acompanhada de seu bebê sadio. Olhando o sangue da carne no prato, perdi o apetite completamente. Quando eu fico assim, passo dias sem conseguir comer qualquer coisa dotada originalmente de olhos. E eu sempre espero que seja para sempre.

Passei longos minutos tirando fotos do bebê do Cláudio, me escondendo atrás da câmera e me controlando pra não chorar de emoção diante da perfeição da vida. O neném escondia o dedinho na boca, e a cada movimento de sua respiração forte, eu tinha ímpetos de pedir desculpas de joelhos a todas as vacas, porcas e frangas cujos filhotes eu já devorei.

De volta à casa, vi pela primeira vez na TV a cena que todos comentavam esta semana: a de um bebezinho humano sendo resgatado de um lago, dentro de um saco plástico preto. Estou tremendo e chorando até agora só de imaginar a loucura de uma mãe com coragem de vestir seu rebento como se fosse dia de festa e atirá-lo à água dentro de um saco plástico. Como pode existir gente que faça isso, enquanto a maioria das pessoas mataria e morreria para salvar um filhote de gente? O que eu não faria por um filho meu? O que eu não faria com quem ameaçasse um filho meu?

Estou muito triste e sem voz porque eu, que sou visceralmente uma mãe, que sinto que vim ao mundo especialmente para arregalar meus olhos ao parir meus rebentos e então ampará-los em meu colo e prometer-lhes que nada de mal jamais irá atingi-los, percebi toda a maldade do Homem. Não só a maldade que joga bebês al mare, mas também aquela que condena à morte os filhos que não são nossos.