Este é o meu quartinho de bagunça. Da embalagem vazia de Chokito ao último livro do Saramago que eu não terminei de ler, você encontrará aqui de tudo um pouco.

terça-feira, janeiro 24, 2006

Sempre fui amorosa.




1970 e pouco.
Eu e Ilton Hemetério, meu irmão mais velho, vivendo uma cena cotidiana de idílio familiar: eu, como a então caçula (portanto a favorita de todos); ele, como meu escravinho dedicado que, entre outras coisas bacanas, girava com a espada o móbile de meu berço pr'eu gargalhar. Quando eu aprendi a falar o nome dele, passei a gargalhar sozinha. Ele, por sua vez, se ria ao me chamar de Badeta na Palhinha. Explico: é que eu fui o menino Jesus no Presépio de Natal da creche dele; então, quando o cara me viu ali interpretando meu primeiro papel, na maior concentração, começou a gritar: "Mãe, ói a Badeta na palhinha!" Apesar da intermissão, eu fiz o maior sucesso naquele dia. Depois eu tive de explicar umas coisas pro me'rmão sobre o teatro e o silêncio, mas o cara aprendia rápido. Fazíamos uma dupla fantástica, como Garfiled e Odie. Tudo era perfeito em nossas vidas.


Até nascer outra caçula.


Ilton já tinha experiência em superação, mas eu, por todo o sucesso que eu fiz e por todo amor que eu tinha pelo meu público, levei mais de 20 anos para superar. Vocês, que são filhos únicos, não sabem como é duro perder o colo da mãe prum bebê qualquer. Hoje, eu acho bebê uma coisa linda, mas na época eu não conseguia entender o que minha mãe via naquela merdeca careca e banguela que não sabia fazer nada além de gargalhar (e eu juro que não fui em quem destruiu o móbile do berço da Samantha!). Mas os anos se passaram e, depois que eu parei de arrancar sistematicamente os cabelinhos de minha irmãzinha, ela cresceu e se tornou uma moça bonita.


A minha irmã é a da esquerda (não me confundir com o primata de pelúcia do meio).



Agora o Ilton mora em Salvador, a Sam em Nova York... eu, aqui, largada, no Rio... sem ninguém pra implicar, pra contar pra mamãe... pra fazer cafuné na orelha e dormir abraçada... ninguém pra pentear o meu cabelo... nem pra dizer que vai dar porrada nos caras que me trocam por outra... nenhuma irmã pra me tocar violão fazendo uma acorde por hora e dizendo "peraí, tá louca, peraí!"...

Eu amo os meus irmãos, mas é pela minha irmãzinha Sam que meu coração bate mais acelerado. Afinal, ela é a caçula, e os caçulas sempre fazem mais merda que os mais filhos velhos e os sanduíches. Sam, eu te amo. Deixa de ser mala e me manda fotos!

"Sister, you been on my mind
Oh, sister
We're two of a kind
Soul sister I'm keeping my eyes on you
I betcha you think I don't know nothing
But singing the blues
Oh, sister
Have I gotta news for you
I'm something
And I guess you know that you're something too"

(Miss Cellie's Blues - The Color Purple)