Este é o meu quartinho de bagunça. Da embalagem vazia de Chokito ao último livro do Saramago que eu não terminei de ler, você encontrará aqui de tudo um pouco.

sexta-feira, fevereiro 10, 2006

Ponto de virada


Ontem assisti o último filme do Woody Allen, "Ponto Final", que a Cora Rónai classificou acertadamente como um filme sobre a sorte. Embora eu concorde com ela, o encarei mais como um filme sobre a obsessão.


Longe de mim querer fazer crítica de cinema, mas eu recomendo fortemente que este filme seja visto por todo mundo, pois além de ser surpreendente e, paradoxalmente, manter uma unidade lógica do início ao fim, "Ponto Final" dá muito material pra se matutar sobre ambição, sorte, paixão, loucura e traição. Com personagens praticamente arquetípicos dentro do universo da tragédia, ninguém escapa de se identificar com a esposa tola, o pai generoso ou o marido ambivalente. E dói bastante se ver amplificado em um telão de cinema, com som dolby stereo. É como se o ridículo da caricatura se tornasse insustentável imediatamente após a projeção.


Por isso tudo, nas últimas 16h, falando sobre este filme com a voz emotivamente rouca a meus amigos, eu já lhe troquei o nome duas vezes: em vez de "Ponto Final", olha que gozado, eu o transformei em "Ponto de Virada". Mesmo porque uma história nunca acaba: ela simplesmente muda de direção, à graça dos ventos ou de um motor de popa super esforçadinho.


O próprio Allen mostrou, em "Melinda X Melinda", que a vida da gente pode ser leve e doce - como uma comédia - ou grave e pesada, como uma tragédia. Depende apenas do olhar, do sentir e do agir de cada um. Eu, que fui trágica até hoje, decidi - eis aí o meu ponto de virada - me permitir ser feliz. Chega de sabotagem!