Este é o meu quartinho de bagunça. Da embalagem vazia de Chokito ao último livro do Saramago que eu não terminei de ler, você encontrará aqui de tudo um pouco.

quinta-feira, junho 01, 2006

A coisa tá feia!


Uma entrega do supermercado faz com que a pobre da minha diarista ligue pro meu pai, uma pessoa nada afável, meu monstro de plantão:
- Seu Jorge, chegaram as coisas aqui na casa do senhor. O senhor quer que eu ponha na coisa ou em cima da coisa?
(detalhe: cheguei à conclusão de que não é má vontade: meu pai não consegue mesmo se comunicar com quem substitui todos os substantivos pela palavra "coisa" e todos os nomes próprios por "coisinha", nem com o emprego dum repertório gestual super elaborado. Eu confesso que prefiro falar com quem dá nome aos bois, mas eu sempre me esforço para identificar quem é "ele", mesmo quando a história que me contam tem 15 "eles" diferentes, e nenhum d"eles " com nome.)
- Lourdes, como vão as suas coisas?, pergunta ele irritado.
(Faz-se silêncio. Lourdes está constrangida com a pergunta. Ela provavelmente deu uma conotação sexual à "coisa" toda.)
- Lourdes, e então? Tudo bem com as suas coisas?
- Ô, seu Jorge... O que eu quis dizer era... sobre as compras... se eu guardo lá na coisa, comequié?, na geladeira, ou se eu ponho lá em cima da coisa.
- Depende: onde você coisa as suas coisas?
- Algumas na geladeira, outras eu coiso dentro do armário.
- Então, tá: vai coisando aí que se não estiver coisado do jeito que eu coiso, quando eu coisar eu coiso de novo.
- Tá bem, seu Jorge. Então, tchau.
- Tchau.

***

Minha melhor amiga dos 3 aos 9 anos, a Zilnemary, só me chamava de "Coisinha". Eu achava tão bonitinho que nunca a corrigi. Passaram-se seis anos e ela nunca soube meu nome. Desconfio que ela não conseguiria decorá-lo, pois eu provavelmente era a Coisinha 246B de centenas de outras coisinhas que ela nunca nomeava.