Liberté, egalité, "voluntarié" (ou, pros preciosistas, bénévolat -- à la vonté!)
Eu podia estar aqui roubando, matando, estuprando ou até pregando o evangelho, mas estou só fazendo propaganda do voluntariado, uma experiência que está mudando minha vida como eu imaginei que só a maternidade seria capaz.
Não deixa de ser uma transferenciazinha, mas com todo esse amor que eu tenho pra dar, e poderia dar pra uma pessoa só (o que seria dum egoísmo escroto), o voluntariado se tornou um exercício regular de distribuição do meu infinito afeto para peludinhos sem-teto.
Eu comecei devagar e com cautela, e ainda estou caminhando a passos de lesma, até porque tenho medo de virar uma militante maluca, daquelas que tiram toda a roupa e se acorrentam a uma árvore centenária em vias de ser cortada para permitir a construção de uma rodovia. A minha tendência, obviamente, e até porque eu não nego amor nunca, é justamente essa: ficar bem, mas bem maluca mesmo! Ou alguém aqui tem alguma ilusão de que os ativistas do Greenpeace e do PETA são pessoas mentalmente equilibradas?
Agarrar uma causa nobre e se empenhar pra mudar o mundo (ainda que só um tiquinho-assim) através dela muda a vida de qualquer pessoa. Analisando isso num nível rigorosamente racional, como um engenheiro o faria, qualquer pessoa que leia jornal no Brasil ou que não tenha nenhuma debilidade mental alienante sente uma impotência escrota diante da corrupção, da miséria, da concentração de renda e tantas outras coisas que fazem meu sangue ferver só de pensar. Cada um com seu discursinho -- uns dizendo que a solução é blindar a vida, outros dizendo que só uma revolução pra mudar essa bagunça --, mas a verdade é que todo mundo se sente impotente a seu jeito. Ver uma criança no sinal pedindo esmola debaixo de chuva, um doente morrendo de câncer porque a verba da saúde foi desviada pr'algum esquemão, um cachorro vagueando atordoado dentro do Rebouças... tudo isso faz a gente passar batido, entre 80 e 100 km por hora (porque se eu paro, eu penso; e se eu penso, enlouqueço) pela cena e sentir o coração exclamar: puta merda!
Exclamar palavrões e discutir política aos gritos, entre uma gelada e outra, não resolvem nada. O que alivia nossa impotência diante de coisas que, pensando de forma bastante otimista, só nossos bisnetos verão melhorar, é arregaçar as manguinhas hoje mesmo e fazer algo. Se juntar a um grupo ou uma ONG bacana, dessas raras que existem pra fazer e acontecer mesmo, e não apenas pra mamar nas tetas do esquemão. Bater numa porta dessas e perguntar: ei, cara: posso ajudar de alguma forma?
Desde que comecei a trabalhar, ainda que de forma minimalista, como voluntária do SOS Vida Animal, por indicação da Bia Petri (que eu amo ainda mais por isso!), fiquei sem tempo de ficar deprimida. Ou impotente. Ou imprestável. Ou idiota, porque votei no filho da puta errado; ou no filho da puta certo, que não foi eleito. Fiquei sem tempo até pra dormir o tanto que eu gostaria, mas ganhei tanto em alegria, que meu tesão pela medicina veterinária voltou. E voltou pra ficar. Eu tenho a profissão mais bonita que existe. E o que mais me orgulha nela é saber que eu posso mudar o mundo através do trabalho que faço diariamente para mudar a atitude das pessoas em relação aos animais e às próprias pessoas. Um veterinário consciente de seu papel como educador e formador de opinião, ensina, entre uma vacina e outra, noções importantes de posse responsável, controle de natalidade e cidadania.
Não há nenhum mérito em ser correto com o seu igual: isto é mera obrigação. Mérito há, e muito, em ser correto, gentil e respeitoso com uma criatura completamente submissa à toda nossa força, fúria e maldade. É quando abrimos mão de nos blindar contra as mazelas do planeta e passamos a combatê-las, como os idealistas guerrilheiros que a ditadura calou, que encontramos nossa melhor chance de viver numa taba melhorzinha. Afinal, parece que a Terra é gigante, mas vista do espaço é só uma bolinha que flutua no azul profundo. E estamos todos no mesmo barco.
Não deixa de ser uma transferenciazinha, mas com todo esse amor que eu tenho pra dar, e poderia dar pra uma pessoa só (o que seria dum egoísmo escroto), o voluntariado se tornou um exercício regular de distribuição do meu infinito afeto para peludinhos sem-teto.
Eu comecei devagar e com cautela, e ainda estou caminhando a passos de lesma, até porque tenho medo de virar uma militante maluca, daquelas que tiram toda a roupa e se acorrentam a uma árvore centenária em vias de ser cortada para permitir a construção de uma rodovia. A minha tendência, obviamente, e até porque eu não nego amor nunca, é justamente essa: ficar bem, mas bem maluca mesmo! Ou alguém aqui tem alguma ilusão de que os ativistas do Greenpeace e do PETA são pessoas mentalmente equilibradas?
Agarrar uma causa nobre e se empenhar pra mudar o mundo (ainda que só um tiquinho-assim) através dela muda a vida de qualquer pessoa. Analisando isso num nível rigorosamente racional, como um engenheiro o faria, qualquer pessoa que leia jornal no Brasil ou que não tenha nenhuma debilidade mental alienante sente uma impotência escrota diante da corrupção, da miséria, da concentração de renda e tantas outras coisas que fazem meu sangue ferver só de pensar. Cada um com seu discursinho -- uns dizendo que a solução é blindar a vida, outros dizendo que só uma revolução pra mudar essa bagunça --, mas a verdade é que todo mundo se sente impotente a seu jeito. Ver uma criança no sinal pedindo esmola debaixo de chuva, um doente morrendo de câncer porque a verba da saúde foi desviada pr'algum esquemão, um cachorro vagueando atordoado dentro do Rebouças... tudo isso faz a gente passar batido, entre 80 e 100 km por hora (porque se eu paro, eu penso; e se eu penso, enlouqueço) pela cena e sentir o coração exclamar: puta merda!
Exclamar palavrões e discutir política aos gritos, entre uma gelada e outra, não resolvem nada. O que alivia nossa impotência diante de coisas que, pensando de forma bastante otimista, só nossos bisnetos verão melhorar, é arregaçar as manguinhas hoje mesmo e fazer algo. Se juntar a um grupo ou uma ONG bacana, dessas raras que existem pra fazer e acontecer mesmo, e não apenas pra mamar nas tetas do esquemão. Bater numa porta dessas e perguntar: ei, cara: posso ajudar de alguma forma?
Desde que comecei a trabalhar, ainda que de forma minimalista, como voluntária do SOS Vida Animal, por indicação da Bia Petri (que eu amo ainda mais por isso!), fiquei sem tempo de ficar deprimida. Ou impotente. Ou imprestável. Ou idiota, porque votei no filho da puta errado; ou no filho da puta certo, que não foi eleito. Fiquei sem tempo até pra dormir o tanto que eu gostaria, mas ganhei tanto em alegria, que meu tesão pela medicina veterinária voltou. E voltou pra ficar. Eu tenho a profissão mais bonita que existe. E o que mais me orgulha nela é saber que eu posso mudar o mundo através do trabalho que faço diariamente para mudar a atitude das pessoas em relação aos animais e às próprias pessoas. Um veterinário consciente de seu papel como educador e formador de opinião, ensina, entre uma vacina e outra, noções importantes de posse responsável, controle de natalidade e cidadania.
Não há nenhum mérito em ser correto com o seu igual: isto é mera obrigação. Mérito há, e muito, em ser correto, gentil e respeitoso com uma criatura completamente submissa à toda nossa força, fúria e maldade. É quando abrimos mão de nos blindar contra as mazelas do planeta e passamos a combatê-las, como os idealistas guerrilheiros que a ditadura calou, que encontramos nossa melhor chance de viver numa taba melhorzinha. Afinal, parece que a Terra é gigante, mas vista do espaço é só uma bolinha que flutua no azul profundo. E estamos todos no mesmo barco.
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