Este é o meu quartinho de bagunça. Da embalagem vazia de Chokito ao último livro do Saramago que eu não terminei de ler, você encontrará aqui de tudo um pouco.

sexta-feira, janeiro 05, 2007

Petit-pois

Darumá. Rima com Petis-Pois.



Quando uma mulher psiquiatricamente normal toma conhecimento de sua gravidez, o bebê que ela gera no ventre é menor que uma ervilha. Isso me faz chorar toda vez que vejo um homem de 1,90m (que já foi ervilha -- pasmem! -- um dia).

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Hoje falei com uma graça de baianinho mezzo francês, mezzo soteropolitano que eu conheci em Salvador neste Natal, o Mauro. Desligado o telefone e mediante o enlevo do reencontro vocal, de repente, me deu uma vontade maluca de voltar a estudar na Alliance pra depois passar uma temporada morando em Bordeaux (fazendo colheita de uva em troca de um prato de comida, de um bom vinho e um canto pra estender meu saco de dormir). Ou talvez seja vontade de fazer biquinho e dizer ah, bon!, como quando digo "ah, é?" sem levantar suspeitas de que caguei e andei pra notícia, dando pinta de muito pelo contrário. Ah, bon! e Ah, é?, dependendo da situação, são os mais perfeitos equivalentes politicamente dissimulados do desprezo profundo contido no inglês "oh, really?", pronunciado assim, letra a letra, como que pra conter o vômito. É por isso que eu amo a língua do Shakespeare: a entonação e a forma como a sobrancelha se move (ou não) ao falar, dizem mais que mil palavras.

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Conversando ontem com o grande Alex Ferro, cheguei à conclusão de que o que mais me faz falta num namoro é a cumplicidade. Aquele lance de olhar pruma carinha e saber, sem ter de perguntar coisa alguma, que há algo de podre no Reino da Dinamarca. Ter uma percepção canina do outro. Ou então deitar na cama, continuando um papo que a escova de dentes interrompeu, falar até adormecer (no meio de uma frase sem nexo) e acordar sem lembrar em que parte do assunto paramos. E começar tudo de novo durante o café da manhã ou em meio aos cadernos do jornal espalhados pelo chão.

Foi aí que eu descobri, burra velha já, que qualquer tipo de relação estável madura não está primariamente relacionada ao sexo ou ao amor, como se pensa, e sim a essa urgência visceral de se encontrar, no calor do abraço do outro, o encaixe perfeito pra partilhar, ao pé do ouvido, todas as coisas mais importantes da vida. Sabendo disso assim, tão claramente, encerro hoje, oficialmente, minha busca por um par romântico, qualquer que seja. Se meu lance é cumplicidade, tenho mais o que fazer que buscar o impossível: as pessoas não são treinadas, nem na escola, nem na vida, para a honestidade ou para a cumplicidade, e sim para a mentira, para a vaidade, para o egocentrismo.

Além disso, tenho essa impressão sutil, graças (ou desgraças) ao meu histórico afetivo de desonestidade masculina (foram uns poucos, mas que fizeram estragos insanáveis), que seria mais fácil encontrar cumplicidade numa mulher do que num homem. Talvez em Bordeaux, talvez em NYC. Aqui, não. O Rio ainda não está adaptado aos gays, infelizmente. Quem sabe o eleitoreiro Minc não cria uma lei pra amordaçar e esterilizar os pitboys e caretas hostis em geral?

Acho que nenhuma criança merece um pai que não seja cúmplice de sua (a da criança) mãe. O amor, essa chama eterna só enquanto dura, pode até mesmo acabar, mas a cumplicidade dos pais na criação dos filhos tem de perseverar. Caso contrário, melhor é ter um cachorrinho. Com filho não se brinca. Prefiro morrer maluca e maníaca, cercada de 100 peludinhos, como Camille Claudel, que ter filhos com um ser humano que não tenha, no mínimo, a hombridade e a fidelidade de um cão.