Este é o meu quartinho de bagunça. Da embalagem vazia de Chokito ao último livro do Saramago que eu não terminei de ler, você encontrará aqui de tudo um pouco.

domingo, janeiro 28, 2007

Nada é necessariamente verdade.

Desde que Fernando Pessoa veio com aquele papinho brabo de que "o poeta é fingidor/ e finge tão completamente/ que chega a fingir que é dor/ a dor que deveras sente", criou-se um precedente importante pra mentira escrita, seja ela em verso, prosa ou jabá. Estou tocando da forma mais delicada possível neste assunto, que vai obviamente me levar à pândega da falsa morte (auto) anunciada da Meg SubRosa, porque eu sempre desconfiei, desde que fiz minha primeira busca na internet usando o Alta Vista, que eu nem sei se ainda existe, que devemos sempre suspeitar da veracidade dos fatos propagados em progressão geométrica por spams e blogs. Uma falsa verdade -- e no tocante às mentiras, quanto mais dramáticas, porque humanos têm essa necessidade patológica de sofrer, mais verossímeis --, como aquela dos filhotinhos de labrador que seriam degolados pela dona louca se não fossem DOADOS em 24h, pode passar três, às vezes cinco anos circulando e se propagando pelo mundo. Bem-vindos à rede internacional de intrigas, inverdades e teorias conspiratórias.

Por e-mail, já tentaram me convencer -- e eu caguei, é lógico -- que o Redbull, líquido do qual sou praticamente dependente química, é uma arma infalível pra dominar o mundo e concentrar a renda global nas mãos de seu criador, o anticristo. Então, desde sempre, apesar de ingênua, babaquara e crédula, até porque eu minto muito mal e acho que todo mundo é igualzinho a mim nisso, desconfio de tudo que leio na blogosfera.

Oscar Niemeyer se casou aos 99 anos -- minha primeira reação à esta notícia, antes de verificá-la em todos os jornais do país, foi: a imprensa marrom está dominando a Terra e, logo, seremos todos marrons: a cor oficial do cocô do cavalo do bandido. Mas quando a notícia triste (sim, eu tinha esperança de me casar com o Oscar) impressionante é mais pessoal, como no caso da falsa morte da Meg, é claro que a gente não imagina que a imprensa marrom esteja por trás disso, deturpando a verdade. A tendência é crer. E sofrer. Eu e muitos dos meus amigos vestimos um luto até descobrir que Meg está entre nós. OK. Melhor assim. Foi chato sofrer à toa, tendo já tanta coisa concreta pra sofrer de verdade? Foi. Mas foda-se. Não vou transfigurar meu sofrimento em mágoa, quando na verdade ele virou, instantaneamente, alívio de sabê-la viva. E me deixou ainda mais cascuda pra lidar com o bicho homem.

Bicho complicado, esse. Infelizmente, como não nasci cachorro, tive de aprender (e todo dia traz uma nova lição) a lidar com meu semelhante. E lembrar -- ou melhor, nunca esquecer! -- que as pessoas, ao contrário dos cães, não emitem sinais claros de que vão te atacar, a qualquer momento, na parte mais frágil do corpo. Aliás, para os cães, a parte mais frágil do corpo é o pescoço ou o tórax. Humanos sabem que nosso calcanhar de Aquiles é o coração subjetivo. Aquele que sangra emoção, sofre e chora.

Tem gente que se especializa em desferir golpes letais no nosso telhado de vidro. Não creio que seja este o caso da Meg. Não quero colocar em discussão se ela deve ser perdoada ou não pelas lágrimas derramadas em vão. Sou partidária do choro. Chorar clarifica a visão, lava a alma, libera hormônios humanizantes. Chorar é humano, enfim. Se cães fôssemos, uivaríamos. E o uivo, a lástima canina mais próxima de uma lágrima humana, serve pra chamar um ente querido que se desgarrou da matilha.

Que nossas lágrimas tragam a Meg pra perto, e não o contrário. Às vezes os cães são tão mais brilhantes que a gente que me dá vontade de roer um osso. Mas isso, como tudo que se lê por aí, não é, necessariamente, verdade.