Nada é necessariamente verdade.
Desde que Fernando Pessoa veio com aquele papinho brabo de que "o poeta é fingidor/ e finge tão completamente/ que chega a fingir que é dor/ a dor que deveras sente", criou-se um precedente importante pra mentira escrita, seja ela em verso, prosa ou jabá. Estou tocando da forma mais delicada possível neste assunto, que vai obviamente me levar à pândega da falsa morte (auto) anunciada da Meg SubRosa, porque eu sempre desconfiei, desde que fiz minha primeira busca na internet usando o Alta Vista, que eu nem sei se ainda existe, que devemos sempre suspeitar da veracidade dos fatos propagados em progressão geométrica por spams e blogs. Uma falsa verdade -- e no tocante às mentiras, quanto mais dramáticas, porque humanos têm essa necessidade patológica de sofrer, mais verossímeis --, como aquela dos filhotinhos de labrador que seriam degolados pela dona louca se não fossem DOADOS em 24h, pode passar três, às vezes cinco anos circulando e se propagando pelo mundo. Bem-vindos à rede internacional de intrigas, inverdades e teorias conspiratórias.
Por e-mail, já tentaram me convencer -- e eu caguei, é lógico -- que o Redbull, líquido do qual sou praticamente dependente química, é uma arma infalível pra dominar o mundo e concentrar a renda global nas mãos de seu criador, o anticristo. Então, desde sempre, apesar de ingênua, babaquara e crédula, até porque eu minto muito mal e acho que todo mundo é igualzinho a mim nisso, desconfio de tudo que leio na blogosfera.
Oscar Niemeyer se casou aos 99 anos -- minha primeira reação à esta notícia, antes de verificá-la em todos os jornais do país, foi: a imprensa marrom está dominando a Terra e, logo, seremos todos marrons: a cor oficial do cocô do cavalo do bandido. Mas quando a notícia triste (sim, eu tinha esperança de me casar com o Oscar) impressionante é mais pessoal, como no caso da falsa morte da Meg, é claro que a gente não imagina que a imprensa marrom esteja por trás disso, deturpando a verdade. A tendência é crer. E sofrer. Eu e muitos dos meus amigos vestimos um luto até descobrir que Meg está entre nós. OK. Melhor assim. Foi chato sofrer à toa, tendo já tanta coisa concreta pra sofrer de verdade? Foi. Mas foda-se. Não vou transfigurar meu sofrimento em mágoa, quando na verdade ele virou, instantaneamente, alívio de sabê-la viva. E me deixou ainda mais cascuda pra lidar com o bicho homem.
Bicho complicado, esse. Infelizmente, como não nasci cachorro, tive de aprender (e todo dia traz uma nova lição) a lidar com meu semelhante. E lembrar -- ou melhor, nunca esquecer! -- que as pessoas, ao contrário dos cães, não emitem sinais claros de que vão te atacar, a qualquer momento, na parte mais frágil do corpo. Aliás, para os cães, a parte mais frágil do corpo é o pescoço ou o tórax. Humanos sabem que nosso calcanhar de Aquiles é o coração subjetivo. Aquele que sangra emoção, sofre e chora.
Tem gente que se especializa em desferir golpes letais no nosso telhado de vidro. Não creio que seja este o caso da Meg. Não quero colocar em discussão se ela deve ser perdoada ou não pelas lágrimas derramadas em vão. Sou partidária do choro. Chorar clarifica a visão, lava a alma, libera hormônios humanizantes. Chorar é humano, enfim. Se cães fôssemos, uivaríamos. E o uivo, a lástima canina mais próxima de uma lágrima humana, serve pra chamar um ente querido que se desgarrou da matilha.
Que nossas lágrimas tragam a Meg pra perto, e não o contrário. Às vezes os cães são tão mais brilhantes que a gente que me dá vontade de roer um osso. Mas isso, como tudo que se lê por aí, não é, necessariamente, verdade.
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