Este é o meu quartinho de bagunça. Da embalagem vazia de Chokito ao último livro do Saramago que eu não terminei de ler, você encontrará aqui de tudo um pouco.

quarta-feira, janeiro 31, 2007

VanOr se responde (sim, VanOr fala sozinha e é normal)

Querida VanOr,

Tenho 34 anos de vícios e muitas vezes acho que a única solução pra todos os meus problemas (de uma vez) é um gole de cicuta com 20 ml de sakê, 6 uvas Itália esmagadas com 4 folhas de manjericão, duas pedras de gelo e meio saquinho de Finn.

Digo "de uma vez" porque eu sou ansiosa demais pra resolver um probleminha de cada vez. A lista de vícios é interminável: sou viciada em cafeína, médicos, remédios e doenças em geral, cabeleireiro, manicure, pedicure e toda sorte de serviços supérfluos superfaturados tipicamente mulherzinha, vestidinhos novos, homem malandrão, homem que volta pra ex, homem que se desculpa usando clichês ("O problema não é contigo, é comigo.", ou: "Ainda não me sinto pronto pra casar e ter filhos.", ou: "I love you, babe, but how can we make it if I live in Israel (ou EUA, ou Cape Town, ou dentro de um iate, ou em BH....) and you have an entire future ahead of you in Rio?"; ou, o que me enlouquece mais do que tudo: "Você é boa demais pra mim." -- desculpe, mas só de escrever isso, tive de dar uma pausa pra vomitar). Enfim, sou viciada em homens que me abandonam em geral, do meu pai biológico em diante. Cheguei num ponto em que eu preferia ser viciada em heroína e pronto.

VanOr, cara (jamais te chamaria de "Cara VanOr", que meu sangue corre ao contrário com lugares comuns)... Eu olho pro meu corpinho repleto de hematomas (também sou viciada em joelhaços) e penso: será que minha já nem tão curta experiência com homens impossíveis está querendo me dizer que eu preciso mudar e seguir o conselho das minhas amigas e amigos
gays -- e fingir que caguei pro cara, jamais ligar de volta, nunca dizer o que eu sinto, quero e espero, ser fria como um iceberg, bla bla bla -- ou o que eu preciso mesmo é esperar que apareça um cara que NÃO engate uma ré e fuja a 120 por hora quando eu disser, piscando meus enormes olhos castanhos brilhantes: "Estou apaixonada por você". Será que esse cara existe ou o Greg, meu personal tarólogo, está demitido?

bjs,

Aquela que não aprende nunca, porra.

VanOr responde:

Querida Mulher de 34, seja bem-vinda à maturidade. Você já percebeu que há apenas dois tipos de pessoas no mundo: os homens e as mulheres. São espécies diferentes que só procriam por um milagre divino. Não existe fórmula mágica pra grudar um no outro e o outro no um, mas existem coisas que você pode fazer pra não se sentir vazia enquanto não pintar o homem certo que seu personal tarólogo diz que vai pintar há 3 anos (e sim, esse puto está demitido!):

1. divirta-se com os errados, com camisinha e sem compromisso;

2. treine pra correr a maratona de Paris no ano que vem;

3. ganhe muito dinheiro (porque maratonas em Paris custam caro);

4. páre de pintar as unhas e se depilar fora de casa (economize pra maratona de Paris e reduza seus gastos com antialérgicos);

5. use mais seu cérebro e menos o seu coração, porque o cérebro sangra menos, fofa;

6. termine de ler "Mais Platão e menos Prozac", querida: você ainda é dependente de auto-ajuda, mas tente se enveredar pela filosofia: pinta cada homem-gato de óculos nesses cursinhos livres da PUC!...;

7. colete alguns óvulos enquanto eles ainda não têm um potencial altíssimo pra Síndrome de Down, pague uma mensalidade pra mantê-los bem congeladinhos e jogue pela janela essa merda de relógio biológico: é pressão demais pra você, minha florzinha maternal... Na pior das hipóteses, você ainda pode pedir emprestado um espermatozóide congelado pro Oscar Niemeyer te fecundar quando você fizer 60 anos, se não tiver pintado nenhum candidato a pai viável até lá (pedindo com jeitinho, de joelhos, ele acabará cedendo -- mas corre, que o cara já tem 100 anos!);

8. da próxima vez que um cara te repetir uma desculpa-clichê, em vez de ficar paralisada de choque, horror e vontade de gargalhar, relaxe esse seu corpinho flexível, faça seus pranayamas enquanto conta até um e meio e diga, bem blasé, pra não se estressar (que o estresse envelhece): "Não precisa dizer mais nada, querido. Já entendi tudo. Agora vai tomar no olho do teu cu, tenha uma boa vida e vê se deleta meu telefone do teu celular pra não correr o risco de me ligar bêbado, de madrugada, em conflito."

Afinal, uma mulher de 34 precisa dormir bem pra acordar linda, bem disposta pra correr atrás da vida e sem olheiras.

Uma série de 15 joelhaços na veia, com três repetições em intervalos de 45 segundos,

VanOr (sua personal alterego, a seu dispôr)