Este é o meu quartinho de bagunça. Da embalagem vazia de Chokito ao último livro do Saramago que eu não terminei de ler, você encontrará aqui de tudo um pouco.

quinta-feira, abril 05, 2007

A mulher pré-paga

Meu nome não é Sybill, não tenho múltiplas personalidades e nem sou bipolar. Acho importante começar este post assim, cagando esclarecimentos, pra que vocês entendam, claramente -- e se tem uma coisa que eu tenho, é paciência pra explicar -- que rótulo de cu é rola.

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Sentindo a barra pesar pra cima do meu cheque especial, sentei minha volumosa bunda na cadeira, fiz umas contas de soma e subtração (mais subtração que soma, na verdade), tudo na calculadora científica, a invenção mais complicada e MBA-friendly do século passado, e percebi que estou num beco sem saída. Num mato sem cachorro. Mais fodida que cego em tiroteio. Mais soterrada que pobre em desabamento. Os últimos meses, talvez anos, de gastança me levaram à bancarrota. E o pior é que, agora, nem carro eu tenho pra vender. Nem cabelo! Tem gente que vende cabelo e se dá bem com isso, mas se eu corto (e no Dudu!!!, vai se fuder, sua perdulária loooooouca!) sempre que fico triste, assim como compro um vestidinho sempre que fico triste, e eu fico triste com uma certa freqüência, como vocês já devem saber, nem cabelo eu tenho pra vender. (mas talvez tenha vestidos, o que pode ser uma boa idéia...)

Abri um grupo de auto-ajuda, os Perdulários Anônimos Ex-Clientes do Crystal Hair (PAEC-K-to go-CHair-ity). Não sei se pelo nome longo, não sei se pelo estrangeirismo (eu perco o grupo de auto-ajuda, mas não perco a piada), ou porque perdulário nunca é anônimo, de fato, pois está sempre sobrecarregado de sacolas de compras, mas o grupo não obteve o quórum mínimo pra começar a se ajudar. Então eu tive de me virar sozinha, até porque eu conheciosegredo.com.br e compreendi claramente que não adianta esperar cheques chegando na minha caixa postal: isso só acontece com gente cuja profissão é "visionário" (what the fuckity fuck is this?!?) ou pessoas feias, bobas, repetitivas e com dentes medonhos em geral.

Meus dentes são bonitinhos, mas eu não vou vendê-los.

Então, muita calma nessa hora, fiz uma lista das despesas a cortar:
  1. Celular. Depois de passar uma hora pendurada no *144 da Oi, uma verdadeira maratona zen-taoísta que só ganha quem conseguir não gritar ou falar palavrão depois de 45 minutos de gerundismos e "aguarde só mais um momento, por favor", consegui passar do Oi Roubo Total pro Oi Controle, que me "dá" 25 reais por mês pra gastar em ligações, torpedos, etc. De ontem pra hoje, nas primeiras 24h do plano, gastei quase R$21. É um treinamento de choque, como os acampamentos militares de sobrevivência na selva: a cada ligação que eu faço, recebo um torpedo da Oi dizendo: "Oi, você gastou R$1,04. Seu saldo é R$3,72. Obrigado." Minha vontade é escrever de volta, dizendo: "Oi, seu bandido vigarista de merda. Você cobra 0,52 centavos por minuto e ainda diz 'obrigado'? Ah, me deixa em paz! E vai se fuder!!!" Mas em vez disso, eu respiro fundo, penso na serenidade do Fran, meu guru, conto até 10 e desenvolvo meu desapego do celular. Eu não nasci com celular, não preciso de celular e tudo bem, ficar sem celular. Mas "Oi" de cu, gente, é rola. Evitem a palavra "oi" comigo nos próximos 6 meses, por favor. Digam ei, olá, hola, hey, hi, ciao, iiiii-ha, coé, "ó o auê aí, ô", tudo!, menos "oi". Eu posso arrancar os olhos de vocês em questão de segundos. O tratamento do perdularismo, como qualquer outra crise de abstinência, deixa o ser humano deveras estressado. Estressadíssimo.
  2. Amex. Picotei em pedacinhos tão minúsculos, que nem a Estamira vai conseguir saber com que letra começa meu nome. Foi bastante terapêutico usar a tesoura de ponta com requintes de crueldade num plástico maldito que mente sobre milhagem.
  3. Manicura e pedicura. Agora quem cuida das minhas unhas, sou eu. La garantía, soy yo! E eu tenho certeza absoluta que eu nunca vou pegar hepatite C fazendo minhas próprias unhas, com o meu próprio material.
  4. Cosméticos. Descobri, pra minha sorte e graça, que tenho alergia de contato a propilenoglicol e bicromato de potássio. Ou seja: sou alérgica a quase todos os cosméticos, do xampu ao creme de celulite, passando pelo La Roche-Posay para o contorno de olhos e as sombras e máscaras da MAC. Ufa. Um terço das minhas despesas abusivas terminam aí. Serei uma mulher pré-paga in natura. Quase uma boa selvagem, ou uma selvagem boazuda de cara lavada.
  5. Personal esotéricos. Chega de Greg, revolução solar, sinastria e caboclas jupiras. Serei, eu mesma, a minha própria visionária, o que quer que seja isso. Nos EUA, isso até dá dinheiro e rende filmes ridículos de auto-ajuda. O que me leva ao item 6:
  6. Cinema. Nunca mais verei filmes americanos ou americanóides que não sejam do Woody Allen. Não valem à pena.
  7. Teatro. Vá ao teatro, mas só nas peças que derem 50% de desconto do Globo. Senão, não me chame.
  8. Cachaça. Farei uma lista de botecos que aceitam Smart VR em qualquer horário, que quem enche a cara na hora do almoço tá mais dodói que eu. Na hora do almoço, eu vou comer minha personal marmita, como qualquer trabalhador honesto do Brasil (ha ha ha, nunca fui tão hipócrita quanto agora);
  9. Tênis de corrida. Quando meu Mizzuno Wave Creation 7 se desintregrar, vou correr descalça na areia. E ainda ganharei coxas de fazer inveja àquele baixinho que não consegue emplacar o milésimo gol. Talvez ele morra antes, coitado, afinal está bem velhinho, mas eu não torço por isso (só porque ele troca de camisa como eu troco de namorado), porque agora sou uma pessoa totalmente Tao, de pensamento elevado.
  10. Namorado. Chega de namorado duro, do tipo "Ih, tô sem cheque, paga a minha e amanhã eu deposito?", querendo dizer: "Amanhã será outro dia e minha memória é curta." Daqui pra frente, só namoro caras com seu próprio talão de cheques e Smart VR, que não tá fácil pra ninguém.
Eu tenho fé na minha política de contenção de despesas, e como a primeira visionária homologada do Brasil, sei que até junho terei saído dessa lama. Mas rezem por mim, que não custa nada e ainda cataliza a concretização do Segredo.

Aliás, O Segredo de cu, bem cá entre nós (ninguém precisa saber, é segredo)... é rola! Mas isso, acho que todo mundo já sabia.