A carona de sexta
Ontem peguei, de carona com uma colega do hospital, um engarrafamento de 100 minutos entre Mangueira, Gávea, Leblon e Jardim Botânico (sim, foram várias pequenas paradas: uma delas pra pegar uma poodle de 15 anos, que entrou pela janela no sinal vermelho).
No meu colo, o tempo todo até o Leblon, uma gatinha sortuda que conseguiu uma família bacana pra chamar de sua. Era uma gata sem caixa de transporte, um carro sem ar condicionado e duas veterinárias sem um puto na bolsa, nem pra dar a opção ao ladrão caso ele pedisse "a grana ou a vida". Os vidros fechados, um calor fodido. As três fêmeas estressadas: a felina, porque nunca tinha andado de carro na vida e achou ronco de moto muito estranho: toda vez que passava um motoqueiro, ela me gudunhava as pernas de levinho e se colava ao meu corpo; as humanas veterinárias, claro, porque se fossem assaltadas iriam provocar um trauma emocional irreparável no filhote felino, talvez até uma síndrome do pânico, com seus gritos e reações inesperadas típicas de mulheres à beira de um ataque de nervos.
Depois de 20 minutos com a gatinha no colo, rolou uma fome. Dividi com ela um pacote de Biscoito Globo. Defendo-me antecipadamente das acusações de nutrição inadequada, alegando que eu não sou veterinária dessa gatinha -- tinha acabado de sair do trabalho, e eu me recuso a ser veterinária das 17h de sexta às 8h de segunda. Nesse período, eu sou só "tia", e tia pode fazer o que bem entender no intuito de conquistar peludos em geral.
No trigésimo minuto, eu me apaixonei perdidamente: comecei a perguntar se a família adotante era limpinha, se tinha tela na janela e essas coisas que a gente pergunta quando fica contente com a adoção, ma non troppo; quando, na verdade, a gente tem é inveja do sortudo que foi adotado por um gato.
Na hora de entregar a gatinha à veterinária do Leblon que a levaria à sua nova família, meu amor por ela era tanto que fiz mil recomendações e cagações de regra. Expliquei pra minha desconhecida colega, que deve ter me achado louca, que a gatinha gosta muito de Biscoito Globo, quando passeia de carro prefere ficar deitada no colo, sobre um vestido de malha bem macia, mas que odeia motos e roncos estridentes em geral.
Preciso alugar um bebê. Se os miseráveis em geral fazem isso pra pedir dinheiro em sinal, por que não eu?
No meu colo, o tempo todo até o Leblon, uma gatinha sortuda que conseguiu uma família bacana pra chamar de sua. Era uma gata sem caixa de transporte, um carro sem ar condicionado e duas veterinárias sem um puto na bolsa, nem pra dar a opção ao ladrão caso ele pedisse "a grana ou a vida". Os vidros fechados, um calor fodido. As três fêmeas estressadas: a felina, porque nunca tinha andado de carro na vida e achou ronco de moto muito estranho: toda vez que passava um motoqueiro, ela me gudunhava as pernas de levinho e se colava ao meu corpo; as humanas veterinárias, claro, porque se fossem assaltadas iriam provocar um trauma emocional irreparável no filhote felino, talvez até uma síndrome do pânico, com seus gritos e reações inesperadas típicas de mulheres à beira de um ataque de nervos.
Depois de 20 minutos com a gatinha no colo, rolou uma fome. Dividi com ela um pacote de Biscoito Globo. Defendo-me antecipadamente das acusações de nutrição inadequada, alegando que eu não sou veterinária dessa gatinha -- tinha acabado de sair do trabalho, e eu me recuso a ser veterinária das 17h de sexta às 8h de segunda. Nesse período, eu sou só "tia", e tia pode fazer o que bem entender no intuito de conquistar peludos em geral.
No trigésimo minuto, eu me apaixonei perdidamente: comecei a perguntar se a família adotante era limpinha, se tinha tela na janela e essas coisas que a gente pergunta quando fica contente com a adoção, ma non troppo; quando, na verdade, a gente tem é inveja do sortudo que foi adotado por um gato.
Na hora de entregar a gatinha à veterinária do Leblon que a levaria à sua nova família, meu amor por ela era tanto que fiz mil recomendações e cagações de regra. Expliquei pra minha desconhecida colega, que deve ter me achado louca, que a gatinha gosta muito de Biscoito Globo, quando passeia de carro prefere ficar deitada no colo, sobre um vestido de malha bem macia, mas que odeia motos e roncos estridentes em geral.
Preciso alugar um bebê. Se os miseráveis em geral fazem isso pra pedir dinheiro em sinal, por que não eu?
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