Este é o meu quartinho de bagunça. Da embalagem vazia de Chokito ao último livro do Saramago que eu não terminei de ler, você encontrará aqui de tudo um pouco.

sábado, março 31, 2007

A carona de sexta

Ontem peguei, de carona com uma colega do hospital, um engarrafamento de 100 minutos entre Mangueira, Gávea, Leblon e Jardim Botânico (sim, foram várias pequenas paradas: uma delas pra pegar uma poodle de 15 anos, que entrou pela janela no sinal vermelho).

No meu colo, o tempo todo até o Leblon, uma gatinha sortuda que conseguiu uma família bacana pra chamar de sua. Era uma gata sem caixa de transporte, um carro sem ar condicionado e duas veterinárias sem um puto na bolsa, nem pra dar a opção ao ladrão caso ele pedisse "a grana ou a vida". Os vidros fechados, um calor fodido. As três fêmeas estressadas: a felina, porque nunca tinha andado de carro na vida e achou ronco de moto muito estranho: toda vez que passava um motoqueiro, ela me gudunhava as pernas de levinho e se colava ao meu corpo; as humanas veterinárias, claro, porque se fossem assaltadas iriam provocar um trauma emocional irreparável no filhote felino, talvez até uma síndrome do pânico, com seus gritos e reações inesperadas típicas de mulheres à beira de um ataque de nervos.

Depois de 20 minutos com a gatinha no colo, rolou uma fome. Dividi com ela um pacote de Biscoito Globo. Defendo-me antecipadamente das acusações de nutrição inadequada, alegando que eu não sou veterinária dessa gatinha -- tinha acabado de sair do trabalho, e eu me recuso a ser veterinária das 17h de sexta às 8h de segunda. Nesse período, eu sou só "tia", e tia pode fazer o que bem entender no intuito de conquistar peludos em geral.

No trigésimo minuto, eu me apaixonei perdidamente: comecei a perguntar se a família adotante era limpinha, se tinha tela na janela e essas coisas que a gente pergunta quando fica contente com a adoção, ma non troppo; quando, na verdade, a gente tem é inveja do sortudo que foi adotado por um gato.

Na hora de entregar a gatinha à veterinária do Leblon que a levaria à sua nova família, meu amor por ela era tanto que fiz mil recomendações e cagações de regra. Expliquei pra minha desconhecida colega, que deve ter me achado louca, que a gatinha gosta muito de Biscoito Globo, quando passeia de carro prefere ficar deitada no colo, sobre um vestido de malha bem macia, mas que odeia motos e roncos estridentes em geral.

Preciso alugar um bebê. Se os miseráveis em geral fazem isso pra pedir dinheiro em sinal, por que não eu?


17h45: barulhos estranhos na rua.

17h55: Biscoito Globo na entrada do Viaduto P. Frontin. Sucesso total.

18h10: panduê cheio, fez do biscoito um travesseiro fresco: muito calor no carro.

19h: Are we there yet?