Este é o meu quartinho de bagunça. Da embalagem vazia de Chokito ao último livro do Saramago que eu não terminei de ler, você encontrará aqui de tudo um pouco.

sábado, março 24, 2007

Vanor responde especial: TPM x Possessão Demoníaca

Querida VanOr,

Tenho 43 anos, estou no meu quinto casamento há 3 anos e temo que esta relação não chegue às bodas de flores & frutas. Minha atual esposa só não gerou um oitavo filho com meu DNA porque eu fiz vasectomia após o terceiro divórcio, já que não tinha nem mais um puto pra pagar pensão. E também porque -- e é por isso que lhe escrevo em desespero -- todos os meses, durante a TPM dela, eu vivo o pior dos pesadelos domésticos: panelas voando em minha direção, meus ternos italianos jogados pela janela, gravatas de seda picotadas a dente (por ela), enfim... são episódios violentos que me assustam muito, por mais que eu seja um homem centrado, equilibrado e com dois MBAs em gerenciamento de situações críticas.

Eu sei que TPM e mulher são coisas indissolúveis, mas haveria algum conselho que você pudesse me dar pra que eu possa, doravante, administrar melhor essa semaninha mensal de desvio comportamental da mulher que eu SÓ consigo amar e reconhecer 3 semanas ao mês?

Aquele abraço,

Homem-das-planilhas

***

VanOr responde (tranqüila, feliz e centrada, graças ao meu novo guru, Fran):

Prezado Sr. Excell,

Venho por meio deste humilde memorando -- que o desapego taoísta torna o ser humano mais humilde e menos assim... como você -- esclarecer que há um abismo intransponível entre TPM e possessão demoníaca.

Pelo o que você descreve, sua mulher não sofre de TPM, e sim de possessão demoníaca. A culpa, é claro, é sua. E o diabo, of course my horse, é você.

Você fica aí, posando de vítima mensalmente assustada, mas ninguém te mandou cortar a porra do pau só pra ela não ter um filho que, na cabeça de qualquer mulher normal e honesta, seria o fruto de um grande amor e, nessa sua cabecinha atormentada por tanto MBA, seria só mais uma singela forma de sangrar o bolso dos seus ternos italianos. Depois você reclama que não tem dinheiro pra porra nenhuma: a Renner tá cheia de terninho em conta!

Sr. Excell, eu sei que sua mente vive povoada por problemas reais, como os números a bater da empresa, os atrasos dos vôos na ponte Rio-São Paulo, a bolsa de valores e a bolha do Bush, mas tente abrir um espaço na sua espremida agenda para entender uma coisinha, por favor: mulher não é equação, e portanto não se resolve por algoritmo (as variáveis são infinitas!). Mulher não é uma situação crítica a administrar, mas uma criaturinha pra amar e cuidar, porque quando a gente gosta, é claro que a gente cuida!

Ponha a mão na consciência e escreva um relatório, como se fosse praquele careca de quem você puxa o saco sem pudores, sobre seus sentimentos reais pela moça. Não vale a pena, Sr. Calculadora Científica, conviver com quem não se gosta de verdade. Faça essa análise o quanto antes, até porque deve estar assim de homem fértil, que ainda não cortou o pau por covardia, querendo comer e fecundar a mulher que você aprisiona por capricho. Perceba que você não é casado com ela: o verbo que você usa -- e me perdoe a petulância, mas eu tenho amor à palavra e levo todas super a sério -- é o ESTAR, denotativo de momento. Você já se casou com ela com um pé no divórcio. Já calculou todas as despesas; já sabe que vai morrer em 3 mil de advogado -- mas já calculou que é melhor isso do que morrer em 800 comendo, de camisinha, uma vagabunda diferente por semana, por 4 anos, dentro dessa sua patológica concepção de relacionamento --; já transferiu todos os seus bens pra um laranjal de porteiros e copeiras semianalfabetos da sua empresa e conhece, melhor que ninguém, a Lei do Concubinato.

Por fim, pra você não achar que ainda vem por aí um joelhaço de misericórdia "to put you out of your fucking misery", segue um check-list esclarecedor, que você pode inserir na sua calculadora de riscos afetivos, com as diferenças mais basais entre TPM e possessão demoníaca:

A mulher está em TPM quando:
  1. Um chocolatinho resolve qualquer rusga;
  2. Um beijo sem língua e sem a palpação dos seios potencialmente doloridos, acompanhado de um terno sorriso de "gostou, meu bem?", depois da deglutição do chocolate preferido que você acabou de dar pra ela, é recebido com lágrimas nos olhos (e, muitas vezes, um abraço repleto de soluços) ALERTA VERMELHO: não vá você pagar o mico de perguntar "o que houve, querida, por que você está assim?"; fique bem quietinho, e ponha-se no seu lugar!);
  3. Chora porque não consegue acender a porra do aquecedor a gás, e aproveita a momentânea frustração pra se atirar no chão e nadar crawl em suas próprias lágrimas, porque não há solução pra Humanidade, o efeito estufa vai transformar o mundo num filme catástrofe e ela nem sabe por onde começar a fazer seu imposto de renda (mas tudo isso se reverte com o item 1);
  4. Chora quando vê um bebê na rua sorrindo pra ela, justo no momento em que ela está desperdiçando mais um óvulo irreversível (vide item 1);
  5. Buzina e xinga, gritando pela janela, numa mesma frase sem vírgulas e com trezentas palavras, o motorista da frente, que teve o desplante de não arrancar instantaneamente com aquela bosta de carro no exato momento em que o sinal ficou verde (vide item 1).
A mulher está possuída pelo demônio quando:
  1. O demônio é você;
  2. Rasga, põe fogo, joga pela janela, quebra, picota e pisa em cima de coisas invariavelmente caras que você ou ela amam, em CNTP;
  3. Sua mãe está passando uns dias na casinha de vocês (e não dessa jararaca escrota);
  4. Você lhe dá um vestido lindo e caro, que ela ama logo de cara, mas que -- surprise, surprise! -- está dois números acima ou abaixo de seu real tamanho (vide item 2);
  5. Você a acorda de madrugada gritando o nome de outra mulher (vide item 1).

Moleza distingüir alhos de bugalhos, não é? Então durma com esse barulho e espero, de coração, que seu saco inválido, recheado de bolinhas inúteis, desinche em tempo recorde. Que no caso de uma criatura ruim como você, não deve ser menor que 2 anos.


beijos evoluídos espiritualmente, ma non troppo (afinal, só tive 20 minutos com meu guru na vida, e a evolução espiritual demanda um tempo que eu ainda não tenho),

VanOr