Por favor, não morram de inveja: eu me sentiria muito mal!
Ah, gente boa. Sei que não tenho sido assídua aqui e nem sei por onde começar, então começo então pelo meu renascimento, que se deu graças à crueldade existencialista que me ensinou o Fábio, com um amor algo pérfido, mas profundo, quando me disse: "Algumas pessoas vêm ao mundo apenas para existir".
Pois eu descobri que só existir é o caralho! Me recuso a só existir, não é esta a minha onda, nem nunca será. Não preciso ter um grande amor pra existir, nem de filhos, grana ou fama. Para ir além do existir, só é preciso sentir profundamente, porque quem não sente assim, a ponto de ter a empatia na pele, não entende o mundo nem as criaturas vivas; e quem não tem essa compreensão holística do universo difere quase nada de um toco de pau ou duma pedra portuguesa desgarrada da calçada. Orgulho-me muito de ter este verbo -- "sentir" -- grafado em letras de ouro no complexo código genético de todas as minhas células límbicas, e não é à toa que tenho chorado umas cinco vezes por dia desde que cheguei. Primeiro porque tive o medo óbvio-brasileiro e lugar-comum dum dos aviões cair; depois chorei porque sobrevivi aos 4 vôos, sendo um da TAM do Rio pra Sampa; e depois, mermão, porque o feio daqui dá vontade de gritar, de tão bonito que é.
Só chorei de tristeza umas quinze vezes, mas isso não representa nem 2% do meu chororô, e nem vou perder tempo escrevendo sobre isto. Vou falar das lágrimas que valeram a pena (adoro listas):
1) Reencontrar amigos de toda a vida: meu Fafolete de infância, que me pegou de táxi-Mercedes Benz no aeroporto de Lisboa (e pediu, pelamorrrrededeus, pra eu não dar uma de caipira jeca e ficar impressionada com o fato d'os carros daqui pararem pros pedestres); e o Renato André, que putz grila, eu não via há cinco anos (e como esses cinco anos me fizeram falta!);
2) Conhecer amigos novos: a Cristina, a Ana Botafogo de Portugal, e sua sobrinha postiça, Elsa, super exótico assim, com "s" mesmo: um mulherão de metro de oitenta que, como todas as portuguesas, têm cabelão lindo, sobrancelhas fartas e é giríssima de gritar. As duas passaram um lindo dia comigo, fazendo coisas bem ao estilo mulherzinha: compramos cuecas no shopping Vasco da Gama, uma espécie de Flamengo daqui (hahaha, perco a amizade dos vascaínos, mas não perco a piada); comemos saladas e ficamos enfastiadas mesmo assim; ENCONTRAMOS O NELSINHO E A ARMINDA!!! numa varanda linda, com vista pro Parque das Nações, onde tiramos altas fotos que eu vou tentar colocar aqui se o blogger estiver de bem com a vida; visitamos o Oceanário de Lisboa, o segundo maior do mundo e que, por sua vez, me fez chorar com os lindos poemas de Sophia de Mello Breyner Andressen (obrigada, Cris, por me revelar esta outra faceta do mar!) -- tudo muito giro! --, depois baixamos no Chiado, onde há a maior Fnac que eu conheço (e com alguns dos vendedores mais fofos de Portugal) e, de lá, fomos encontrar o Fábio num restô nepalense, onde eu compensei todo o déficit calórico da salada do almoço.
3) Reencontrar (ou reconhecer, como foi o caso da Cristina) amigos longe de casa é como descobrir um oásis no deserto, ou uma ilha paradisíaca jamais pisada pelo homem, ou então acarinhar um unicórnio branco, que, em paga pelo afago, te leva a galopar sobre nuvens. A sensação é toda essa. Há magia nesses momentos, e haja memória poética pra registrar tantas emoções!
4) Madri: para mim, Madri foi o Renato André. Pra não ser tão radical, vou falar a verdade completa: foi meu querido Renato André, meu herói amado, seu delicioso cão-glutão, Simba, e Guernica. Pronto. Digo isso sem medo de ser injusta, pois embora a cidade seja linda, talvez ainda mais bonita que Lisboa, há nela uma falta geral de calor humano. E lá, como em nenhum outro momento da vida, pensei que talvez a existência seja realmente só uma besteira, uma coisa que passa enquanto a gente come, dorme, trabalha e vê TV. Deu-me tristeza ficar em meio a multidões que não se olhavam, nem de relance, e ver casais que não se beijavam, mesmo estando entre alguns dos jardins mais bonitos que já vi. Pensei muito no Anjo Caído, que tem uma estátua bonitinha erguida em sua homenagem no Parque do Bom Retiro: vai ver que ele caiu do céu, justo ali em Madri, porque lhe faltou o Amor, essencial para diferenciar pessoas de pedaços de plástico. Este foi só um pensamento cristão existencial-pessimista que me passou pela cabeça, mas como tudo na vida tem suas compensações, essa estátua é belíssima. A despeito disso, e dos efusivos brasileiros a quem fui apresentada por lá, conheci meia dúzia de espanhóis simpáticos, entre eles um guarda do metrô que me deu orientações sem rosnar e o Saeta, um cartunista de Barcelona que se ria de mim na estação de trem, onde eu me fotograva sozinha, com o timer da câmera, pra matar tempo. Ele tem um site e dois blogs bem bacanas, quando voltar ao Rio vou linká-los aqui.
5) Nelsinho e Arminda. Estes, são um capítulo completamente à parte, porque ontem, oficialmente, me tornei filha d'alma deste que é o único casal apaixonado que eu conheço depois de tantas décadas, mudanças de endereços e outras coisas tristes que vêm no pacote da vida. Quando fui à Espanha, meu celular pré-pago português ficou instantaneamente sem crédito, pois roaming é coisa cara em toda parte, seja o telefone voda ou foda, não importa. Sabendo disso, este querido que é o Nelsinho, e não sei como, pôs crédito em meu vodafone para poder me ligar em roaming. Eu estava justamente me sentindo super sozinha no mundo, voltando de trem de Escorial pra Madri, e depois que ouvi a voz de meu amigo ao telemóvel, ali tão perto e tão perto, passei o restante do trajeto a chorar por minha ingratidão contra a existência: minha vida é boa: tenho os melhores amigos do mundo! E ontem, quando os dois me levaram à Setúbal para conhecer sua linda casa, amigos e arredores, onde está a casa de vinhos que produz meu mais que adorado Periquita, meu de mesa predileto, eu tive a sensação de que família não é só aquele grupo restrito de pessoas com quem temos laços de sangue, mas sim todas as pessoas com quem temos vontade de dividir tudo, dos amigos aos lugares preferidos, passando por alegrias e melancolias que se alternam em ciclotimias. Sob este ponto de vista, confesso que sou grata eternamente à minha Cora Madrinha por ter me introduzido a este universo fantástico da blogosfera, onde as pessoas se conhecem de dentro pra fora; e não há forma melhor para reconhecer amigos que esta. Amigos, não: parentes: "pequenas partes da gente espalhadas pelo mundo", em meu dicionário poético.
6) Por fim, mas não por ser menos importante, o último chororô tem um motivo chantagístico emocional: ainda não encontrei TeAmo, Miguel, Adriana e Moni-k-r. A última, eu sei, mora um 'cadinho longe d'qui, mas como ela é tão pequenina, do tamanho de um botão, se ela quiser mesmo vir, estou tal qual Cristo Rei, de braços abertos e olhos marejados te esperando, querida.
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