... ma non troppo. Não vou fazer disso um drama nem um cabo de guerra, mas definitivamente eu voltarei pra ficar... lá! Por um tempo, não pra sempre, mas eu preciso desse tempo (lá). Este que passou foi mesmo muito pouco.
Tudo bem que aqui é meu lugar. Sou brasileira, amo o Brasil e todas essas coisas bregas que um ufano-sambista carioca pode dizer de suas palmeiras onde canta o sabiá, mas em verdade, vos digo, estou arquitetando planos mirabolantes pra fazer um temporada na Europa, fully dentro da lei, mesmo que esta seja a lei penal aplicada sobre alguma merdinha básica que eu porventura faça só para ter esse incrível direito humano ao exílio político. Senão, ó pá, como eu poderei, um dia, fazer com que o Chico Buarque se identifique e apaixone-se por mim? E se ele não se apaixonar por mim, como poderemos casar e ter filhos um dia?
Tanto Mar
(Chico Buarque, 1978 - versão mutilada pela ditadura militar no
Brasil)
Foi bonita a festa, pá
Fiquei contente
E inda guardo, renitente
Um velho cravo para mim
Já murcharam tua festa, pá
Mas certamente
Esqueceram uma semente
Nalgum canto do jardim
Sei que há léguas a nos separar
Tanto mar, tanto mar
Sei também quanto é preciso, pá
Navegar, navegar
Canta a primavera, pá
Cá estou carente
Manda novamente
Algum cheirinho de alecrim
Obrigada, meus amigos queridos, por estas férias inesquecíveis. Obrigada, Fábio, pelo amor de irmão, que dispensa explicações; obrigada, Nelsinho e Arminda, pelo amor comovente de pai e mãe (vocês não sabem o que eu chorei no aeroporto por isso); obrigada pelo carinho de quem nunca se viu e sempre se amou, minhas queridas Cristina, Elsa e Adriana (amor é coisa que só aumenta nesses casos, e vocês estarão pra sempre comigo); obrigada, Renato André, por todas essas décadas de carinho e amizade que, de repente, e não mais que de repente, me ficaram tão claras e fizeram sentido; obrigada, Carol e Alê, por terem me ensinado sobre o cheiro do inverno -- que eu, pobre ignorante, nunca poderia imaginar que o inverno em Portugal pudesse cheirar a castanhas na brasa; obrigada, TeAmo e Miguel, pelos temperos, velas e aconchego que a gente só sente mesmo entre os amigos de fato (e pelas risadas do balão, definitivamente avariado); obrigada, Eveline e Yadranca, pelas gargalhadas e pelo budismo.
Finalmente, agradeço aos desconhecidos que choraram ou riram comigo e, sem saber nem bem o porquê, caminharam comigo por ruas desconhecidas e transformaram momentos efêmeros em boas eternidades: o Sr. Horácio da Silva, um jovem de 74 anos que eu conheci no metrô e gastou sua manhã comigo, mostrando-me Alfama, a Feira da Ladra e lindos bocados da cidade que eu mais amo no mundo depois do Rio, e ainda teve a paciência de entrar na Igreja de São Vicente de Fora, onde acendi velas e derramei lágrimas que ele enxugou com seu "lenço limpinho"; ao veterinário galego Manel, que me despertou o interesse e a suspeita da viabilidade do exercício de nosso ofício num país estrangeiro; ao artista Saeta, com quem conversei por apenas 3 minutos numa estação de trem, mas foi como se eu o conhecesse há anos (talvez por ele ter sido uma das raras pessoas que eu vi sorrir em Madri); and at last, but not least, ao Erol, britânico-turco que transformou uma boa porção das minhas 7 horas na madrugada em Amsterdam num raro encontro, e ao hindu Barhath, que inconformado com meu pranto no vôo de Amsterdam ao Rio, me pôs pra respirar profundamente e meditar, ensinando-me coisas inéditas sobre Deus e espiritualidade. Sugeriu que eu não comesse mais carne e, tudo isto posto, evitou de forma extraordinária que eu tocasse na minha volumosa caixa de tarja preta que eu levei na bagagem de mão, just in case.
Não foi o case, graças aos meus amigos e à alegria, ainda que melancólica, ainda que em frangalhos, de não ter entrado naquele caixão com o grande amor da minha vida. Essas férias serviram pra me mostrar que a vida continua. E há muita vida pela frente.
<< Home