Este é o meu quartinho de bagunça. Da embalagem vazia de Chokito ao último livro do Saramago que eu não terminei de ler, você encontrará aqui de tudo um pouco.

quarta-feira, outubro 03, 2007

Van'Or responde - edição especial, ó pá!

Querida Van'Or,

Vou tentar ser breve, porque como toda mulher balzaquiana, heterossexual e solteira (apesar de bonita, divertida e inteligente), minha história não difere muito das de outras milhares de mulheres de nossa categoria. Está muito claro e muito certo, pois, que homem -- hetero, solteiro, divertido e inteligente (repares que o gajo nem precisa ser bonito!!!) -- é um artigo de luxo em extinção, tanto aí, quanto cá. Nossa sorte é que ainda há os amigos gays para uma boa risada e os filhos de nossos amigos, coisa de dez ou quinze anos mais jovens, para uma boa trepada, que na maioria das vezes nem boa é, mas como atividade aeróbica funciona. Aliás, este é um dos pontos de meu caso-verdade, que passo agora a relatar:

Tenho um ex-namorado que tirei da sarjeta depois d'ele ter rompido, de forma trágica e violenta, um namoro de dois anos com uma maluca que o espancou e o ameaçou de morte. Depois de lhe ter salvo a vida e a auto-estima, processo lento, demorado e nem de longe sexualmente bem sucedido que me custou um ano de peitos ainda duros, o bandido subitamente perdeu o interesse por mim e -- surprise, surprise! -- disse-me as coisas mais lindas, ergueu um altar de pérolas só para me pôr em cima, ao cabo do que, óbvio, me propôs que ficássemos apenas amigos.

Ferida de morte, nunca mais lhe telefonei ou escrevi, mas disso se encarregou eile, sempre nos momentos em que me pressentia mais carente, o que me impediu, até o presente momento, de pôr uma pá de cal sobre essa história. Pois eis qu'esta semana, o gajo me chama para jantar e diz, entre soluços e lágrimas nos olhos, que sou a mulher mais gira e incrível que eile conheceu, mas que esteve à cama, recentemente, com a maluca da ex e tinha ficado, pois, completamente dividido entre nós duas. Após proferir confissão tão casual, pediu-me a opinião com as mãos trêmulas, mas muda fiquei. A única reação que tive foi fumar um cigarro com fúria e ligar, em seguida, para meu melhor amigo em Madri, perguntando-lhe se poderia me acolher e proteger do suicídio no feriado prolongado vindouro. Aqui em Portugal as emergências psiquiátricas são muito ruins, e por um momento eu temi por minha integridade física, já que a mental não existe mais.

Ora, vejas: se o bandido acha que tem duas opções, e uma delas sou eu, passei eu a analisar as minhas: um cara com menos de trinta que trepa de meias, não sabe beijar, não sabe aprender e veste as cuecas antes de dormir; a solteirice inveterada; ou o lesbianismo forçado. Amiga Van'Or, imagines: fiquei desolada! Por favor, digas que eu tenho mais opções, mas sobretudo digas quais são!

Um grande beijo,

Fadista da Minha Terra


***

Van'Or responde:

Querida Amélia Rodrigues,

Realmente... se a gente juntar a minha, a tua e todas as histórias de gente como a gente, daria pra escrever uma minissérie em dois capítulos de 15 minutos, que seria exibida, com muita boa vontade e teste do sofá, após o noticiário de meia noite num canal de quinta categoria qualquer.

Bollywood perde pra gente, meu amor! Só nos falta reviver essas cenas arquetípicas -- do homem insincero dizendo que podemos ser bons amigos (quando ele quer dizer: "até te comeria uma vez por mês, desde que você não me enchesse a porra do saco"); do babaquara voltando pra ex; do escrotizóide dizendo que somos incríveis, mas que só sente tesão pela moça que deveras o escrotiza -- com coreografia do Bob Fosse e músicas purpurinadas do Elton John. Já passamos do ponto da tragédia: esse tipo de drama é puro pastelão.

Não vou dizer o que você deveria ter dito pro verme quando ele "deixou escapar" que comeu a outra e estava, portanto, dividido. Isto é óbvio demais, e não vou aviltar sua inteligência com isso, mas garanto que teria sido ao menos divertido se você lhe tivesse oferecido uma noite de luxúria pra eliminação de qualquer dúvida e, na hora do rala-e-rola, você jogasse as roupas do gajo pela janela, lhe fugisse com o celular e fizesse, com o telemóvel do mancebo, todas as ligações internacionais que você não fez por economia nos últimos dois anos. Infelizmente, esse é o tipo de homem que só se apaixona por mulheres malucas que fazem esse tipo de coisa, e você não quer um babasquizóide desses na tua cola, quer?

Foi o que eu pensei: trate de fazer a maluca e conte até três, que este homem será seu, minha filha. Tenha fé! Melhor um babaquara na mão do que um ceroulão de meias te babando inteira enquanto tenta descobrir onde fica o clitóris. Ou, sei lá: quer a melhor opção mesmo? Fique sozinha um tempo, gostando só de você. Desde que inventaram a técnica plástico-cirúrgica do sutiã de malha de titânio, peito duro não é problema, então não tenha apego aos caras que te devoraram os melhores momentos da tua forma física: em pouco tempo, haverá consórcios de recauchutagem estética em todas as esquinas.

E quanto ao relógio biológico, bem... a gente não quer ter filhos com qualquer babaca, quer? Então, não os teremos! Porque pra cada cara legal REALMENTE disponível, há vinte e sete mil babacas de plantão. Vivemos uma Era de Xepa e precisamos nos conformar com isso. Girls just wanna have fun, querida, e a gente tem de se adaptar aos novos tempos, tomando sempre o cuidado pra jamais chegar ao fundo do poço. E vamos combinar que a combinação do "beijo de batedeira com meias" + "o sadomasoquista trêmulo do eterno retorno" é a melhor representação moderna do inferno de que tenho notícias.

Segura a onda aê, força, é nóis, pense grande, pense em você e vê se te cuida! Espero que as emergências psiquiátricas de Madri sejam bem servidas de tapas e beijos, no sentido lúdico-gastronômico.

Beijos identificados, portanto sem joelhaços,

Van'Or



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