Este é o meu quartinho de bagunça. Da embalagem vazia de Chokito ao último livro do Saramago que eu não terminei de ler, você encontrará aqui de tudo um pouco.

quarta-feira, julho 23, 2008

Duralex, pedalex

A Lei Seca veio pra ficar, minharrente, então eu não vou ficar aqui dizendo se sou contra a favor, se acho a lei radical-hardcore ou normal. Só sei que se essa lei tivesse chegado há 2 anos, quando eu ainda tinha carro e me alimentava exclusivamente das frutas que porventura compareciam às caipirinhas do Palaphita, eu ia achar ruim: ninguém gosta de ver a vida mudar da noite pro dia, duma blitz pra outra. E a vida mudou, não tenho dúvida.

Dia desses, uma brisa marítima do Leblão veio sussurrar no meu ouvido que uma amiga querida -- um ser humano desmamado em malte escocês cuja identidade vou preservar só porque nossa polícia federal tá me dando uma mêda danada -- e, por coincidência, a pessoa que melhor dirige alcoolizada no planeta, foi de sua casa ao Baixo Gávea de ônibus. Fiquei chocada. Tudo bem que é um trajetículo de duas paradas, mas mesmo assim eu senti uma aflição sem tamanho, não consigo explicar que nervoso foi esse. Tinha perguntas não queriam calar -- e aí, ela acertou que a porta de entrada é a da frente?, perguntou se podia pagar a passagem com AMEX? --, mas ao mesmo tempo fiquei feliz porque esse fato-revelação me ajudou a constatar que ninguém que conheço deu uma de desobediência civil pra cima da dita Lei Seca, que de seca não tem nada, porque a lei é clara, como claras são as pilsen de boa qualidade: pode beber à vontade, só não pode beber e dirigir. Simples assim.

Pronto, revelei: sou fã da lei exterminadora de pinguços ao volante (perigo constante, vide estatísticas maniqueístas no seu jornal, todos os dias). Tanto que quero propôr uma pedalada da paz declarada à Lei Seca pela orla neste domingo. Vamos beber por essa orla inteira, mas de bicicleta, que é pra provar pro poder público que a gente entendeu, que eles não precisam mais manipular os números do Miguel Couto, chega dessa palhaçada! Vamos beber do Leme ao Pontal, mesmo que seja preciso improvisar um pernoite (luau, luau!, u-hu, e o plano cresce!) em algum lugar pelo meio do caminho, que o álcool amolece a musculatura, e pedalar de volta (do Pontal ao Leme) vai ser meio foda.

Eis o trajeto desse meu plano audaz:

Dia: domingo, 27/07/08
10h: quiosque TGI Leme: magarita frozen e internet wi-fi, chapeize!
10h45: quiosque bar Luiz, em frente ao Copa: chope escuro e uai-fái (valeu, cambada de político safado!)
11h30: aquele quiosque mal ajambrado que tem na frente da Teixeira de Melo: caipirinha baratinha (vem num copão de 300ml!) e um queijo coalho mais adiante, logo depois do 9, no calçadão mesmo; daqui a gente entra no Jardim de Alah e vai pra Lagoa;
12h30: Árabe da Lagoa, se houver mesa, que em domingo de sol é foda. Atenção para a possível presença de flanelinhas guardadores de bicicletas institucionalizados, uniformizados e pagadores de imposto. Parada pra comer alguma coisa, fazer um pipi e esperar a galera que só acorda meio dia. Rola um gramado pra quem precisar tirar um soninho, que beber sob sol a pino cansa.
14h: Palaphita: aqui a gente vai fazer um protesto: vamos dizer pro Mário que ninguém vai beber porcaria alguma porque a caipirinha desse bar está cara demais. Não vamos dizer a ele que a gente não bebeu nada porque o Palaphita só abre mais tarde, às 18h, senão ele vai pensar que estamos bêbados. Daqui a gente segue pra Barra da Tijuca, cada qual no seu tempo, sem pressa, senão eu fico cansada só de pensar. Vamos nos falando pelo celular, caso alguém tenha conseguido se salvar do arrastão de telemóveis de Copacabana, que o Wi-Fi na orla é a alegria dos gatunos.

Mas ó, gente, é pra ir pela orla, heim? Não vão vocês se arriscar dentro de túnel, é muito perigoso, afinal domingo é dia de neguinho encher a cara e subornar guardinha em blitz de lei seca. Não sei se tenho mais medo de bêbado dirigindo ou da nossa polícia, preciso me decidir.

PS: Vamos fazer tudo isso, mas três horas mais tarde. E vamos deixar a Barra pra lá, eles se quiserem que façam o protesto deles, foda-se, eu não vou ficar passando a mão na cabeça de nouveau riche.