Este é o meu quartinho de bagunça. Da embalagem vazia de Chokito ao último livro do Saramago que eu não terminei de ler, você encontrará aqui de tudo um pouco.

sexta-feira, outubro 09, 2009

Tapete de cachorro impoliticamente correto

Eu tenho de perder essa mania de abrir o e-mail ao acordar. Hoje, por exemplo: acordei feliz e saltitante às 6 da manhã, o que já é super tarde pra mim, e estava satisfeitíssima por ter conseguido dormir 8 horas sem sair de cima. Nada poderia estragar meu dia - nem a chuva, nem as olimpíadas da Barra da Tijuca, nadinha mesmo -, mas eis que encontro em minha caixa postal, assim, de cara, uma mensagem com a foto de um cachorro morto (encontrado afogado, numa praia, com as patas dianteiras caprichosamente amarradas - prova cabal de que o mundo é mau) e outra com a notícia de que a Bolívia, esse país estranho que pode plantar coca sem ir em cana, está comercializando tapetes de cachorro (como aquelas coisas grotescas que fazem com ursos e tigres, só que com estampa de dálmata ou old english sheepdog).

Por favor, chapeize: poupe-me dos e-mails sórdidos. Vai ter um dia em que eu simplesmente pararei de abrir qualquer email que contenha as palavras cachorro, cão, gato, bicho, animal, criança, bebê, foca, golfinho e baleia. Ninguém suporta tanta notícia de crueldade. É cruel não poder fazer nada diante de tanta miséria humana.

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Uma pessoa da família, cujo nome não revelarei para preservar sua altura anônima, foi renovar a carteira de motorista esta semana. Na hora do exame físico, o suposto médico que a atendeu disse que não poderia aprová-la porque ela tinha 1,41m, estatura insuficiente para a emissão da licença de condução de autos do DETRAN. Como qualquer pessoa da minha família, a criatura se revoltou, subiu nas tamancas e ameaçou a integridade física do médico, obrigando-o a aferir novamente sua altura para provar que tinha não 1,41m, mas sim 1,43m, estatura  igualmente nanica, mas já suficiente para sua aprovação no exame físico da renovação. Tanto insistiu, que conseguiu. Até agora eu não sei se foi ela que cresceu de raiva ou se foi o médico que se encolheu de medo.

Eu entendo completamente a revolta dessa minha pessoa querida. Não é humanamente concebível que um ser humano perca 2cm de altura a cada 5 anos, minha gente! Essa apropriação indébita de estatura há de ser incompetência da sub-raça de médicos que trabalha pro DETRAN, que por sua vez nos obriga a pagar os fundilhos das calças (e mais um pouco) pra ter renovado o direito de dirigir nas ruas esburacadas deste país.

Por outro lado... se minha parente não tivesse conseguido renovar sua carteira por ser (suponhamos) baixinha demais, ela talvez conseguisse tirar uma licença de condução para portadores de necessidades especiais, e aí poderia estacionar sem dificuldades em shoppings no Natal e no dia das mães, compraria carros com desconto e gozaria de um sem número de vantagens que as pessoas sem necessidades especiais não têm. Bem feito: ninguém mandou nascer perfeitinho.

O limite entre uma pessoa especial e uma não especial é, muitas vezes, apenas uma problema postural.

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Numa boa: eu enfiaria muita porrada num félodaputa que tivesse um tapete de cachorro desses estendido no chão da sala.