Bodas de prata e outras coisas cafoninhas bacanas
Hoje de manhã eu descobri o meu lado mais cafona. Perguntei casualmente aos meus pais (mãe biológica e pai relevante), durante o café da manhã, há quanto tempo eles estavam casados. Descobri, estupefata, que eles estão extra-oficialmente juntos há 25 anos.
- 25?!? Bodas de prata???, eu engasguei.
Minha mãe, entre um gole e outro de café, respondeu super blasé:
- Sim. Alguma questão?
- Pô, mãe! Se liga: Bodas de Prata! Quando vai ser? Isso precisa ser comemorado com pompa, com vestido de noiva, com algum líder religioso dizendo amém... pô, com bolo de glacê!
- Ah, mas eu nem sei o dia direito. Acho que já passou. Pergunta pra ele, disse ela apontando com o olhar meu pai, que se fazia de morto durante a conversa.
- E aí? Qual o dia? - O danado rodava os olhinhos pra não encontrar os meus.
- Sei lá, fevereiro. Ela é quem sabe.
E ficaram nesse jogo de empurra, me despistando, até que eu percebi que eu devo ter sido adotada. Eu nunca acharia Bodas de Prata tão importante se tivesse alguma relação genética com essas pessoas. Por outro lado, eu nunca acharia tão bacana ter um casamento de 25 anos, agregador como o deles, se não tivesse sido criada no seio dessa família. Enfim: talvez eu não seja adotada, mas apenas saudosista de ritos que sumiram ou que ficaram restritos à minha memória poética ou à margem das metrópoles.
Well, nem tanto assim. Continuo achando festa de 15 anos uma das coisas mais cafonas e humilhantes da vida - eu fui obrigada a ter uma, mas fiz questão que fosse na serra, a 134 km da minha tchurma, pra restringir o acesso de testemunhas visuais do meu ridículo. Noivado: nada mais cafona (alguém poderia me explicar a diferença querer casar e querer demonstrar a intenção de casar?).
Mas tem muita coisa cafona que eu adoro. Casais se chamando de nomes fofos e até um pouco ridículos, como "Bubu", "Bibi", "Baby", "Gata", "Docinho", etc. Pinguins em cima de geladeiras. Penteadeiras com coleção de frascos de perfume vazios. Diário com colagens de tudo, da embalagem de chokito ao ingresso do cinema. Caderno de dedicatórias. Álbum mofado de retrato da década de 70, com aquelas fotos totalmente desbotadas e legenda da mãe com letra ainda meio infantil e conteúdo duvidoso. Portas pantográficas. Carro bacana pra levar noiva na igreja. Madrinha de casamento. Casamento, com direito a buquê, chuva de arroz e convidados previamente transfigurados em salões de beleza. BINÓCULOS no Teatro Municipal! (Importantíssimo, por sinal) Cofre de porquinho. Sala lotada de porta-retratos dissonantes. Churrasco com pagode. Bibelôs que não se dão bem, esteticamente falando, mas que contam a história do dono da casa. Missa de ação de graças por graças gritantes, como o aniversário de 90 anos da minha falecida avó. Imagem de São Jorge em altar luminoso nos bares e açougues. Fitinha do Nosso Senhor do Bonfim. Manadinhas de bibelôs de elefante voltadas com a bundinha para a porta. Enfim, há todo um universo de coisas de gosto duvidoso que eu gosto muito. E gostaria muito mais que os meus pais me dissessem quando eles fazem aniversário de casamento pra que eu pudesse organizar uma bodinha de prata surpresa, coisinha simples, assim, com direito a big band e caviar.
Não acredito em coincidências: eu não teria vendido o carro se não tivesse um festão desses pra organizar. Minha mãe não me forçou a fazer 15 anos? Pois chegou a minha vez de me vingar, no bom sentido.
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