Alerta vermelho para os gatos de rua
Ontem saiu uma notícia no jornal que motivou conversas calorosas na Vigilância Sanitária sobre direitos dos animais e o fantasma da pandemia de Gripe Aviária. A notícia falava das notificações do vírus H5N1 em gatos de rua e da possibilidade, ainda não comprovada, de os gatos transmitirem a doença. Sabe-se que o vírus H5N1 tem alta morbidade e alta mutagenicidade. Em função disso, já se fala em política de extermínio de gatos de rua no mundo inteiro como forma de "evitar" a mutação do vírus in natura e a tal pandemia catastrófica da doença.
Na época do Ebola, eu achei que o fim do mundo estava próximo e que a população brasileira seria dizimada. Como Deus é brasileiro, nada aconteceu por aqui. Desta vez, contudo, estou genuinamente preocupada com a Gripe Aviária. Mas estou mais preocupada ainda com o oportunismo alarmista que pode encontrar no H5N1 a desculpa perfeita para o exercício da maldade.
ALEMANHA PLANEJA EXTERMÍNIO DE GATOS PARA CONTER GRIPE
08/03/2006
Nova teoria sustenta que H5N1 teria se espalhado na Europa em razão do comércio ilegal de fezes de aves
BERLIM. Depois que o vírus da gripe de aves foi encontrado em gatos na Alemanha e na Áustria, o governo alemão defendeu ontem o extermínio de todos os gatos de rua, numa medida drástica para impedir a disseminação da doença. Autoridades recomendaram à população que mantenha seus gatos de estimação confinados.
Segundo os especialistas, os gatos ofereceriam um risco ainda maior de transmissão da doença para as pessoas do que as aves porque vivem em contato muito próximo com seus donos. E, acrescentaram, se andam soltos, podem também contaminar aves de granjas, ao transportar excrementos de um local a outro ou mesmo comer aves contaminadas.
Mas não se sabe ainda ao certo se os gatos são capazes de transmitir a doença. Dos três gatos que inicialmente testaram positivo para o H5N1 num abrigo de animais na Áustria, dois revelaram não serem mais portadores do vírus num segundo exame. Os especialistas pretendem repetir os exames nos próximos dias para verificar se o vírus realmente desapareceu. Um outro gato infectado foi encontrado na semana passada na Alemanha.
Teoria das aves migratórias não seria convincente
Ontem, a ONG Liga de Proteção da Natureza e das Aves da Alemanha (Nabu, na sigla em alemão) defendeu uma nova teoria para a rápida disseminação da gripe de aves na Europa. Diferentemente do que se tem sustentado até agora, os especialistas suspeitam que a doença pode ter se espalhado em razão do comércio ilegal de ração feita com restos e detritos recolhidos em abatedouros de aves e de adubos a base de excrementos.
Segundo o biólogo Markus Nipkow, a comercialização de sobras e excrementos de abatedouros é o caminho mais provável de transmissão. Observando no mapa as regiões já afetadas pela doença, ele concluiu que a teoria das aves migratórias não é convincente. E não apenas porque a migração deste ano esteja apenas começando.
— Se as aves migratórias trouxeram a doença, como explicar o fato de a gripe não ter surgido em diversas ilhas por onde elas passaram? — questionou o cientista.
A doença, que surgiu na China, chegou à Turquia no fim do ano passado e, logo depois, à Europa Central. Em poucas semanas foi registrada em praticamente todos os países da Europa. Segundo ele, se os pássaros migratórios fossem os veículos de transmissão da doença, então a gripe teria sido detectada também na Austrália e no Japão, por onde passaram milhares de aves migratórias.
Para ele, a teoria do comércio ilegal de ração e adubo a base de excrementos de aves é bem mais plausível, já que o vírus H5N1 é capaz de sobreviver por 35 dias nesses meios. Para embasar sua teoria, o especialista cita o fato de a doença ter sido identificada pela primeira vez fora da Ásia em países com muita criação de aves e não em pássaros silvestres.
Jornal: O GLOBO Autor:
Editoria: O Mundo Tamanho: 507 palavras
Edição: 1 Página: 42
Coluna: Seção:
Caderno: Primeiro Caderno
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