VanOr responde
A minha situação é muito prosaica, enfadonha e aborrecida pra descrever, mas gera questões que não sei solucionar: quanto o Amor pode resistir a pequenos deslizes, distrações, esquecimentos? É possível um Amor em paz, sem tensão permanente?
Certo de sua luz,
Homem barbado a caminho da misoginia
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Querido Barba Misógina,
Amor em paz é muito bonito, muito gostoso, mas pode tirar esse cavalinho da chuva, que amor em paz não existe, não senhor. Existe, sim, um estado provisório de paz - uma dança das cadeiras em que todo mundo finge curtir a música, mas em verdade só quer garantir o próprio assento -, que termina abruptamente nas trincheiras da possessividade ao sul, do ciúme irracional ao norte, da negligência egoísta ao leste, e da falta de tesão a oeste. Ou seja, com a natural expansão territorial do amor, inevitavelmente o casal vai acabar se enforcando na interseção desses pontos cardeais. Não vou dizer que estou cínica quanto ao amor, mas se eu tivesse a chance de escolher entre o grande amor e um ano de combustível grátis pro meu veículo, não pensaria duas vezes antes de optar pelo vale-gás. E olha que nem carro eu tenho!
Você fala em deslize, esquecimento. O único esquecimento realmente imperdoável pro amor é o de datas comerciais importantes, como o Dia do Namorados. Deslize é chegar em casa de mãos abanando nessas ocasiões. Distração é não perceber a cara de decepção dela. E esquecimento é aquilo que vem logo em seguida à lembrança de "Ciranda, Cirandinha", que toda menina canta e sabe de cor desde sempre: "o anel que tu me deste era vidro e se quebrou, o amor que tu me tinhas era pouco e se acabou."
Enquanto mulher que desistiu de procurar um par - entreguei pra Deus, minha filha! -, espero ter fomentado sua misoginia. Afinal, o que é um punzitinho pra quem já está totalmente cagada?
beijos sem joelhaços porque desta vez até eu senti uma certa fraqueza nos joelhos,
VanOr
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