Histórias de mulé
Foi assaltada à mão armada na Lagoa, saindo de seu carro para a igreja. Vestida a rigor para o casamento da melhor amiga, carregava uma carteira daquelas em que só cabem duas coisas: a chave do carro e um batom. Hesitou em entregar seu ouro, o bandido se enervou. Ela negociou: te dou o carro, com chave e tudo, se você me deixar ficar com a bolsa e o batom. Ele topou. Entrou na igreja, linda e loira, fingindo não ter sido assaltada. Lidaria com aquilo outra hora. Agora ela só tinha que estar bem bonita.
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A reunião não estava nem perto de chegar à metade quando ela sentiu um líquido grosso e quente escorrer-lhe entre as pernas, primeiro tímida, depois caudalosamente. Estava na cadeira mais distante da porta, uma distância que agora lhe parecia quilométrica. Podia sentir a mancha de sangue menstrual aumentar em sua calça de linho, primeiro como uma bola de tênis, depois como uma bola de basquete, mas por sorte fazia meditação transcendental com um maluco de Santa Teresa e, agora, comandava o desligamento de toda a sua musculatura facial, cervical, humm... como era gratificante conseguir relaxar num momento de estresse intenso. Nada mais a conectava à Terra quando seu chefe pediu-lhe que fizesse a apresentação de seus slides. Ela alegou qualquer coisa e pediu pra fazer a apresentação assim, sentada, e foi linda a sincronia verdadeira de seu fluxo com a passagem das telas no data show, um prazer raro que era só dela. Esperou que todos fossem embora e pediu à copeira que levasse sua calça na lavanderia express mais próxima. Pra quem nunca fez, esta moça recomenda: não há nada mais incrivelmente sexy e poderoso que passar uma tarde inteira trabalhando só de terno, salto e calcinha num prédio sem cortinas no centro da cidade.
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Tenho 9 anos e estou revoltada porque acabo de ganhar de minha avó um sutiã. O que ela espera, que eu tenha peito aos 9 anos?!? Acontece que eu não tenho peito e tenho raiva de quem tem! Eu me recuso a criar peito. E se nascer pentelho, eu arranco com pinça!
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