Mascotes
Minha chefe-Rita, a pessoa mais equilibrada, ecológica-e-politicamente correta que eu conheço, contou-me que viu, com sua filha de 4 anos, uma fila quilométrica de Flamenguistas aguardando a vez para comprar o ingresso da vitória de hoje contra o botafogo. Como a Rita é ótima, mas não é perfeita, e por isso é vascaína (eu até respeito, mas com letras minúsculas), teve o desplante de me contar o que comentou com sua pequena Loló quando viu a Nação Rubro Negra se avolumando às portas do Jockey Club:
- Ih, tá cheio de urubu fedido aqui hoje!
Nem preciso dizer que fiquei extremamente revoltada e meu efervescente sangue passou logo a correr no sentido contrário pelas veias, de tanto choque e horror: Como assim, urubu? E como assim, fedido? Então minha ídala do politicamente correto está plantando em sua filha a maligna semente do preconceito olfatório? Haveria naquele preconceito olfatório alguma evidência indefensável de injúria racial? Estaria ela, por ser caucasiana e vascaína, insinuando que meu Timão é um time de afrodescendentes com desodorante vencido?!? Minha fé na Humanidade ruiu naquele exato instante, mas a Rita tentou contornar:
- Ah, Van, nada a ver. Foi só uma alusão ao mascote que o SEU time escolheu, que, diga-se de passagem, não é um passarinho lá muito fofo ou cheiroso.
- E o mascote do seu time, heim, heim? O bacalhau, pelo que me consta, também não é o peixe mais cheiroso que existe. Inclusive é usado para se referir a partes bacalhoentas da mulher que não se cuida.
- Sim, mas pelo que me consta, não existe nenhum peixe perfumado.
- E nem urubu!
Estava óbvio que aquela discussão teria de se encerrar sozinha. Se continuássemos, provavelmente partiríamos pros cabelos uma da outra e entraríamos em méritos ginecológicos nada a ver. Então ficamos as duas caladas por alguns instantes, furiosas com as insinuações lançadas de lá e cá, pensando com nossos botões por que diabos o cão, o melhor mascote do mundo por sua semper fidelidade, tinha de ser logo o símbolo do botafogo, aquele timeco que nunca será o nosso.
- Ih, tá cheio de urubu fedido aqui hoje!
Nem preciso dizer que fiquei extremamente revoltada e meu efervescente sangue passou logo a correr no sentido contrário pelas veias, de tanto choque e horror: Como assim, urubu? E como assim, fedido? Então minha ídala do politicamente correto está plantando em sua filha a maligna semente do preconceito olfatório? Haveria naquele preconceito olfatório alguma evidência indefensável de injúria racial? Estaria ela, por ser caucasiana e vascaína, insinuando que meu Timão é um time de afrodescendentes com desodorante vencido?!? Minha fé na Humanidade ruiu naquele exato instante, mas a Rita tentou contornar:
- Ah, Van, nada a ver. Foi só uma alusão ao mascote que o SEU time escolheu, que, diga-se de passagem, não é um passarinho lá muito fofo ou cheiroso.
- E o mascote do seu time, heim, heim? O bacalhau, pelo que me consta, também não é o peixe mais cheiroso que existe. Inclusive é usado para se referir a partes bacalhoentas da mulher que não se cuida.
- Sim, mas pelo que me consta, não existe nenhum peixe perfumado.
- E nem urubu!
Estava óbvio que aquela discussão teria de se encerrar sozinha. Se continuássemos, provavelmente partiríamos pros cabelos uma da outra e entraríamos em méritos ginecológicos nada a ver. Então ficamos as duas caladas por alguns instantes, furiosas com as insinuações lançadas de lá e cá, pensando com nossos botões por que diabos o cão, o melhor mascote do mundo por sua semper fidelidade, tinha de ser logo o símbolo do botafogo, aquele timeco que nunca será o nosso.
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